terça-feira, 1 de novembro de 2011

João Calvino: Teólogo, Eclesiástico e Pastor (1509-1564).


A excelência do ministério pastoral e da vida cristã prática sem dúvida alguma passa pelo caminho reflexivo de João Calvino. Alguns relegam Calvino como um teólogo sistemático, árido, outros dizem que foi um homem que trouxe problemas para o campo eclesiológico em virtude de seus estudos sobre predestinação, soberania de Deus etc.

Calvino de fato nesta geração tem sido esquecido, não citado, não estudado, principalmente nos círculos das igrejas livres não tradicionais não históricas. Os poucos materiais em língua portuguesa “ ad fontes ac fontibus” ( ás fontes e a partir das fontes) de Calvino faz ele um desconhecido entre nós pastores.

Ele é lembrado nos livros de história como Reformador ao lado de Lutero, Zuinglio, Knox etc. mais isso nada contribui para a excelência do ministério pastoral que Calvino tanto se dedicou e amou.

Ele também é mencionado no meio acadêmico da ala teológica brasileira principalmente a reformada, calvinista que nutri no tecido da sua teologia um calvinismo brasileiro.

Enquanto escrevo percebo que minha mesa esta rodeada de livros de Calvino, mais também sei que a maioria dos líderes brasileiro não tem nenhum livro dele a não ser uma panfletagem calvinista aliatória. A verdade é que João Calvino servo de Deus gastou horas e até mesmo a sua vida toda escrevendo com fidelidade os comentários da Bíblia como também sua magnífica Institutas e também outros escritos.

Fora isso Calvino infelizmente é uma sombra, uma peça de museu teológico, um desconhecido caricaturado pouco lembrado, pouco querido, pouco desejado, pouco estudado, pouco citado.

A igreja hodierna (hoje) fascinada com o pragmatismo, com o receituário fácil de crescimento, superficialidade doutrinária, não tem conhecido Calvino como um homem de Deus, simples, humilde, espirituoso e de uma habilidade e consciência pastoral que eleva o ministério no patamar excelente.

As igrejas históricas no Brasil não tiveram habilidade como receptora da herança reformada de passar a tradição para as igrejas novas. Fossilizaram-se em sua própria denominação e preconceito e esqueceram de contribuir calvinisticamente para a igreja brasileira.

Um dos importantes comentários que Calvino escreveu sobre a segunda epístola do Apóstolo Paulo aos Coríntios foi lançado em solo brasileiro pelas Edições Parakletos em 1995 com muita dificuldade e desdem, todavia o editor Valter Graciano Martins foi um visionário em manter firme suas convicções diante dos ventos contrários.

Hoje temos vários livros a disposição do leitor graças também a editora Fiel que deu acesso barato para lermos Calvino. Barato e acessível o preço do livro dando assim a chance para os líderes mais simples poder ter em sua prateleira mais duradouro e valioso o aprendizado oriundo desta literatura.

Todavia Calvino é um estranho entre nós. Poucos conhecem ele. Poucos soletram Calvino. Poucos se dedicam a estudar Calvino. Poucos tem a habilidade de ser calvinista sem ser fundamentalista. Poucos tem a esperteza de comunicar Calvino para essa geração.

Carlos Ribeiro Caldas Filho, ministro presbiteriano, mestre em missiologia pelo Centro Evangélico de Missões em Viçosa (MG), doutor em Ciência da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo em seu estudo “ Do Lugar dos Estudos em João Calvino na Formação dos Pastores da Igreja Presbiteriana do Brasil”, mostra que os livros sistemáticos de Strong e de Berkoff marcaram toda uma era na estrutura dos pastores presbiterianos no Brasil do que as Institutas de João Calvino.

Ele mesmo diz que os estudos em Calvino foi relegado a segundo plano e muitos pastores conhecem Calvino só de ouvir falar. Caldas ainda diz

A forte ênfase em estudos em teologia sistemática contribuiu para que se conheça pouco Calvino (...). A ênfase em teologia sistemática na formação dos pastores da IPB contribuiu para que Calvino seja pouco estudado e consequentemente pouco conhecido (...). A IPB será beneficiada se enfatizar estudos em Calvino no processo de preparação formal de seus pastores ( Fides Reformata, 1996,p.52-53).

Devemos mencionar aqui a grande contribuição que a Editora Fiel fez introduzindo vários temas de Calvino em sua revista " Fé Para Hoje - número 35-nov/2009".O tema da Revista era sobre "Calvino 500 anos". Vários autores deram sua contribuição e isso enriqueceu muito nossa visão de João Calvino em suas vários patamares.

O teólogo Franklin Ferreira trabalhou a temática " João Calvino e a Pregaçào das Escrituras". O teólogo Valter Graciano Martins, trabalhou a temática sobre "Calvino Falando Português. Já o Dr. Augusto Nicodemus Lopes repensou "João Calvino e a Universidade". O estudioso Solano Portela trabalhou "O Calvinismo e o Governo Civil". O estudioso Gilson Santos colaborou com o tema "Calvino e a Estética". Harry L. Reeder, teceu comentários sobre " Calvino como Pastor, Evangelista e Missionário. Eric J. Alexander finalizou trabalhando o tema " A Supremacia de Jesus Cristo.

De fato é uma ótima introdução ao mundo dos pensamentos e propósito de Calvino em portugués de maneira sintética , pontual e diretiva. Parabenizamos aqui a Editora Fiel por disponibilizar este material para os cristãos brasileiros.

Nosso interesse em Calvino neste estudo é de cunho poemênico (pastoral) aqui não reside uma teia de “calvinófobos” e nem “calvinólatras”. Desejamos perceber a excelência do ministério cristão na perspectiva dele para a nossa geração.

Estudar Calvino de fato é um pélago prazeroso, pois ele é profundo e no dizer de Barth é uma catarata. Sabemos da limitação equacionada e da complexidade de sintetizar Calvino, todavia a tentativa de olhar para o mestre genebrino é salutar para o (re) descobrimento da pastoral do século XXI e da vida cristã.

João Calvino Teólogo protestante francês nasceu na Picardia, e estudou filosofia na universidade de Paris entre 1523 e 1527. Em 1528, recebeu o grau de mestre em teologia. Em 1536 na Suíça publicou sua grande obra com 26 anos, As Institutas. Calvino faleceu a 27 de maio de 1564, foi um dos grandes teólogos e reformador que sistematizou a teologia.

O teólogo alemão Karl Bart disse que Calvino é uma catarata, uma floresta primitiva, na qual ele se assentaria e passava o resto da sua vida somente com Calvino. (GEORGE,1994,p.164).

Calvino tem tido uma grande influência para a teologia. Seus conceitos e sua lucidez teológica têm ajudado vários teólogos ao longo da história. Alguns pensam que Calvino só tratou a questão da "predestinação", todavia Calvino tem contribuído muito para a teologia pastoral, pois Calvino não foi só um exegeta, teólogo, mas foi pastor e eclesiástico, pois ele fala da igreja em suas Institutas de maneira firme, versa sobre doutrinas centrais da fé, mostra a importância da oração na estrutura pastoral e na igreja e tece comentários profundos nos livros da Bíblia sendo um profundo expositor bíblico e critica de maneira eloqüente os falsos mestres tendo sempre a autoridade das escrituras em punho.

A carreira pastoral de Calvino se deu em Genebra. Ele foi convidado por Guilherme Farel para ajudar estabelecer a reforma protestante naquele lugar. Calvino em 1536, tinha escrito suas Institutas, quatro anos mas tarde ele foi convidado por Farel para ficar em Genebra.

A princípio Calvino estava somente de passagem e recusou o convite feito, porém Farel foi incisivo e até amaldiçoou Calvino e ele entendeu que era um chamado de Deus para a sua vida e aceitou o encargo.

Na cidade de Genebra Calvino pregou, ensinou, visitou, escreveu, organizou a igreja etc. Porém ali na doce Genebra Calvino enfrenta seu primeiro embate pastoral e junto com Farel foi perseguido e expulso da cidade em 1538.

Calvino vai para Estrasburgo e ali é acolhido por Martinho Bucer que convida ele para pastorear os refugiados franceses. Calvino pastoreia essas pessoas durante três anos na qual foi de suma importância para a sua vida. Ali ele casou, perdeu seu filho e ficou viúvo mas com perseverança continuou sua jornada pastoral e acadêmica.

Como pastor sua casa era um lugar de encontro, de refúgio, de aconselhamento, de ajuda, de orientação, de ensino e de conversas. Calvino tinha saúde fraca, debilitada, frágil, mas nada impedia de realizar suas atividades pastorais em Estrasburgo. Ele visitava, escrevia carta, dava estudo, orientava as pessoas, pregava e era muito ativo.

Mais em 1541 pela providência divina João Calvino retorna a Genebra, a Genebra da luta, a Genebra que o expulsou, a Genebra da dor, a Genebra dos dias amargos, a Genebra que Calvino não almejava mais pois se sentia desqualificado de estar ali.

Mas obediente à chamada divina ele retorna para o seu antigo ninho pastoral e quando chega na sua igreja e sobe no púlpito faz questão de abrir a Bíblia na mesma página que tinha pregado seu último sermão.

Agora ali Calvino desenvolve com firmeza, destreza o seu ministério pastoral por mas de vinte anos influenciando profundamente a história da igreja. É bom recordar que Calvino nas suas atividades pastorais viveu uma vida simples.

No início do seu ministério ele passou dificuldades no campo financeiro ao ponto de vender parte de sua biblioteca mas sempre foi fiel ao seu chamado pastoral como pregador, expositor, ensinador, ajudador e articulista da reforma.

Dr. Timothy George em seu livro Teologia dos Reformadores afirma que poucas pessoas na história do cristianismo tem sido tão supremamente estimado ou tão mesquinhamente desprezado como João Calvino.

Timothy tem razão quando diz que Calvino não é um anjo nem um diabo. Ele foi como declarou Lutero para todos os cristãos “ santo e pecador” " simul justus et peccator "(1994,p.167).

Em suas Institutas o reformador João Calvino deixa claro o seu pensamento sobre o ministério pastoral. Ele diz que os pastores de fato devem anunciar o evangelho de Cristo e administrar os sacramentos.

O pastor deve ensinar publicamente e também deve ensinar particularmente conforme diz Paulo (At.20.31). Calvino também salienta sobre a doutrina da disciplina na igreja, pois segundo ele somos atalaias na igreja e não podemos ser negligentes caso contrário Deus irá requerer de nossas mãos o sangue daqueles que pereceram por ignorância ( Ez.3.17,18).

Calvino também dá ênfase ao ministério local e adverte o transito de cá para lá entre os pastores salvo quando uma igreja necessitar da ajuda mútua. Ele diz que cada um deve estar contente no lugar aonde esta “no seu limite”.

O teólogo Timothi George em seu livro Teologia dos Reformadores nos ajuda a compreender a visão de Calvino sobre a Poemênologia. Timothi mostra que para Calvino os temas neotestamentários bispo, ancião (presbítero), ministro, pastor e às vezes mestre, referem- se todos ao mesmo ofício.

Qual é o papel do pastor? Para o reformador é “Representar o Filho de Deus”, “Erigir e estender o reino de Deus”, “Ocupar-se da salvação das almas”, “Governar a igreja, que é patrimônio de Deus” .

Para Calvino cada cidade deveria ter pelo menos um pastor. Para ele a ordenação era um rito solene de instituição ao ofício pastoral, ele referiu a ordenação como um sacramento e admitiu que era conferida graça por meio desse sinal externo.

Para ele os pastores devem ser completamente ensinados nas Escrituras, para que possam instruir corretamente a congregação na doutrina celeste. " Como um pai repartindo o pão em pequenos pedaços para alimentar seus filhos".

Para o reformado a pregação não deve ser apenas sã doutrina mais benefício concreto, ou seja, deve ser prática, aplicável. Calvino de maneira firme e didática diz que o pastor precisa de duas vozes: uma para reunir o rebanho e outra para afugentar os lobos e os ladrões. Para ele o papel disciplinador do pastor exige que sua própria conduta esteja acima de qualquer censura.

Em seu comentário sobre a epístola de Romanos Calvino diz que os ministros devem exercer seu ofício com dedicação e o ensino da palavra de Deus é que forma e instrui a igreja ( Calvino,432-433). Em seu comentário na carta ao Efésios, Calvino traça para nós ministros do evangelho a grande importância do nosso ofício.

Ele declara que o fato da igreja ser governada pela proclamação da Palavra não constitui uma invenção humana, o fato de termos ministros do Evangelho, é um dom divino. Calvino entende que doutrinar é dever de todos os pastores, porém há um dom particular “ mestre”, de interpretar a Escrituras, para que a sã doutrina seja conservada e um homem pode ser doutor mesmo que não seja apto para pregar ( Calvino p. 122)

Calvino diz que ao seu ver os pastores são responsáveis pelo rebanho do Senhor. No seu comentário sobre a epístola aos Hebreus Calvino diz que o escritor ao Hebreus se preocupa com os pastores que exercem seu ministério com lealdade quando escreve para os irmãos ( Hb.13.17).

O escrito aos Hebreus diz que devemos Obedecer e honrar, porém aqueles que são pastores e só possui o título e usam mal o título de pastor e traz vergonha e destruição para a igreja merecem mui pouca reverencia e menos confiança ainda. O ofício ministerial é de tal proporção que envolve as lutas mas renhidas e os perigos mais extremos ( Calvino, p.395-397)

De fato a igreja evangelica brasileira deve redescobrir os pilares da reforma protestante que nada mas é do que voltar para a Palavra de Deus e colocar ela em grande valor no tecido do ministerio pastoral e da vida do cristão normal.

Que Deus Abençoe a todos

Sola Gratia

Estudo realizado pelo
Pastor Carlos Augusto Lopes
em homenagem ao Reformador João Calvino.

HOMENAGEM A REFORMA PROTESTANTE: PILARES DA FÉ EVANGÉLICA: SAÚDE, ENSINO E LEGADO


Martinho Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483, no sopé da montanha do Harz na cidade de Eislebem. O reformador Martinho Lutero era filho de um minerador de prata de classe média. O jovem foi destinado para estudar direito, porém, assustado durante uma tempestade perigosa numa estrada próximo de Erfurt, ele prometeu a Santa Ana tornar-se monge caso fosse livre.

Todavia o que levou Lutero a tomar o hábito foi o seu profundo interesse pela própria salvação. Em junho de 1505, antes de completar os vinte e dois anos de idade, Lutero ingressou no Mosteiro Agostinho de Erfurt. Desgostoso com a Igreja Romana em 31 de outubro de 1517, Lutero afixou suas 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg e fez a reforma protestante.

Pesquisas recentes no campo da história da reforma diz que Lutero em vez de afixar as 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg, ele enviou as teses para o seu bispo Gerônimo Schulz, de Brandemburgo. O fato é que Lutero rompeu com Status quo do tacão da religiao fria, excludente, intimista, clerical, vazia e manca que nutria em sua base uma hermeneutica estranha, confusa e ditatorial, fazendo assim a reforma protestante celebrada e comemorada no dia 31 de outubro "Dia da Reforma".

João Calvino Teólogo protestante francês nasceu na Picardia, e estudou filosofia na universidade de Paris entre 1523 e 1527. Em 1528, recebeu o grau de mestre em teologia. Em 1536 na Suíça publicou sua grande obra com 26 anos, As Institutas.

Calvino faleceu a 27 de maio de 1564, foi um dos grandes teólogos e reformador que sistematizou a teologia, escreveu vários comentários da Bíblia e foi fiel a Deus em seu ministério como pastor, exegeta e reformador. O teólogo alemão Karl Bart disse que Calvino é uma catarata, uma floresta primitiva, na qual ele se assentaria e passava o resto da sua vida somente com Calvino.

A Reforma Protestante tem nos deixado um fabuloso tesouro doutrinário oriundo da própria Palavra de Deus e omitido e esquecido por vários gerações. Muitos foram os servos de Deus que lutaram pela reforma como John Wicliff, João Huss, Savonarola, Zwínglio, Tyndale etc. Para isso, admitimos e transmitimos as verdades da nossa tradição eclesiástica: “Sola Scriptura, Sola Christi, Sola Gratia, Sola Fide, Soli Deo Glória.” São esses cinco termos latinos que devem sintetizar a nossa fé cristã, pois todo o ensino sadio da Bíblia tem aqui seu fundamento clássico.

Sola Scriptura (Somente a Escritura) Segundo Heinrich Heppe, a Sagrada Escritura é única fonte e norma para todo o conhecimento cristão. Logo a base dos ensinamentos é, e sempre será, a Escritura Sagrada, que está acima da tradição, da razão, do pragmatismo, da cultura, acima de tudo. O cristão autêntico deve sempre ser dirigido pela palavra de Deus.

Com Sola Scriptura queremos afirmar que a Bíblia é a palavra de Deus, que ela é inerrante, infalível e que tem autoridade em tudo. Essa doutrina é importante para a purificação, crescimento e preservação da igreja. Segundo a Declaração de Cambridge, “...a obra do Espírito Santo na experiência pessoal não pode ser desvinculada da Escritura. A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para a nossa salvação do pecado e é o padrão pela qual todo comportamento cristão deve ser avaliado

Sola Christi (Somente Cristo) Cremos piamente que somente Cristo Jesus, o Filho de Deus, pode salvar o homem (Jo. 3.16), que não existe mais ninguém que possa mediar o homem a Deus (ITm. 2.5), nem justificá-lo, se não for Cristo, o Senhor (Rm. 5.1), pois somente ele e mais ninguém é o caminho a verdade e a vida (Jo.8.33).

É preciso que entendamos que somente ele e mais ninguém pode perdoar os nossos pecados (Jo. 1.29) e nos dar vida eterna (Jo.1 0.10). A Declaração de Cambridge conclui: “Por isso reafirmamos que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória do Cristo histórico. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai”.

Sola Gratia ( Somente a Graça) É a Doutrina da Graça, na Bíblia, que aponta todos os méritos para Cristo. Com a sola gratia queremos afirmar, como igreja de Cristo, que a salvação do homem pecador é obra exclusiva da graça de Deus. O homem pecador não tem poder para se salvar e nem para viver de maneira bíblica, neste mundo.

Como sublinha a Bíblia em Tito 2.11, somente Deus pode ofertar isso para o homem: “Por que a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens”. A Bíblia também diz em Efésios 2.8-9 o seguinte: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus não vem de obras, para que ninguém se glorie”.

Sola Fide (Somente a Fé) É pela graça de Deus que somos justificados, mediante a fé em Cristo Jesus. A fé é um dom de Deus, como diz a Bíblia em Romanos 1.16.17 “Porque não me envergonho do Evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego. Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: O justo viverá da fé”.

A fé salvífica é uma confiança plena no sacrifício de Jesus Cristo por mim, logo, eu obedeço a ele e me sujeito a ele, pois justificado através d’Ele eu vivo de fé em fé. É importante dizer também que a fé não é um sentimento vago. O homem não pode ser salvo se ele não crer inteiramente no sacrifício de nosso Senhor Jesus Cristo (Ef.2:8-9).

Soli Deo Glória (Somente a Deus a Glória) Cremos que o único que pode receber toda a glória é somente Deus (Mt. 5.16; I Cor.10.31; Ef.3.21); que o homem é um ser que glorifica a Deus e não um ser que recebe a glória (Rm. 15.5-6; I. Cor.3.21). O humanismo tem colocado o homem num patamar que a Bíblia não coloca (Jer. 9.24). A Bíblia deixa claro que Deus é o único que pode receber toda a glória (Sal. 29.8; Lc. 2.14; Rm. 11.36), pois tudo vem das Suas mãos — Tanto a graça comum (Sal. 19.1; Mt. 5.45) quanto a graça salvífica (I Co. 6.20). O breve Catecismo de Westminster (1647) sublinha: “Qual é o fim principal do homem? O fim principal do homem é glorificar a Deus e alegrá-lo para sempre". O próprio Jesus Cristo definiu a sua vida e ministério dizendo: "Eu te glorifiquei na terra” (Jo. 17.4) É assim que deve ser a igreja, que é fiel a Deus: Ela deve glorificar a Deus em tudo.

Pastor Carlos Augusto Lopes
Teólogo

domingo, 17 de julho de 2011

A Maior de todas as Virtudes


M. Lloyd-Jones

Tenho por vezes notado a tendência de nem sequer dar valor ao que a Bíblia considera como a maior de todas as virtudes, a saber, a humildade. Numa comissão ouvi pessoas discutindo sobre certo candidato e dizendo: “Sim, muito bom; mas lhe falta personalidade”. Quanto na minha opinião sobre aquele candidato específico era que ele era humilde.

Existe a tendência de justificar a atitude de uma pessoa em fazer uso de si próprio e de sua personalidade e de tentar projetá-la, impondo aos outros a sua aceitação. Os anúncios publicitários que estão sendo crescentemente empregados em conexão com a obra cristã proclamam em alto e bom som essa tendência.
Leia os antigos relatos das atividades dos maiores obreiros de Deus, dos grandes evangelistas e outros, e verá como procuravam apagar-se a si próprios. Hoje porém, estamos experimentando algo que é quase o completo inverso disso.

Que significa isso? “Não pregamos a nós mesmos” – diz Paulo – “mas a Cristo Jesus, como Senhor”. Quando visitou Corinto, conta-nos ele, foi para ali “em fraqueza, temor e grande tremor”. Não subia a plataforma com confiança, segurança e desenvoltura, dando a impressão de uma grande personalidade. Antes, o povo dizia dele “a presença pessoal dele é fraca, e a palavra desprezível”.


Quão grande é a nossa tendência de desviar-nos da verdade e do padrão das Escrituras. Como a Igreja está permitindo que o mundo e os seus métodos influenciam e dirijam a sua perspectiva e a sua vida!!

Que pena! Ser “pobre de espírito” não é tão popular, mesmo na Igreja, como o foi outrora e sempre deveria ser. Os crentes devem reconsiderar essas questões. Não julguemos as coisas segundo a aparência do seu valor; acima de tudo, cuidemos para não sermos cativados por essa psicologia mundana; e tratemos de entender, desde o princípio, que estamos no domínio de um reino diferente de tudo quanto pertence a este “presente mundo mau”.

De: Liga Calvinista

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Pós-Modernidade: Ainda há espaço para a fé cristã?


Pós-Modernidade e seus desafios

O mundo mudou e podemos considerar essas mudanças como um novo padrão de vida da sociedade. Fenômenos culturais, sociais, artísticos e políticos influenciaram nossa sociedade a este avanço sócio-cultural, que chamamos de pós-modernidade.

A pós-modernidade tem se tornado evidente em nossos dias. É impossível desconsideramos que somos, vivemos, e certamente vamos passar o resto de nossas vidas num mundo pós-moderno. O fluxo de informações tomou o lugar dos meios de comunicação e podemos identificar essas características com o aceleramento da produção tecnológica e a expansão dos produtos de alta tecnologia. Os meios de comunicação começam a tomar outro rumo, inclusive influenciando na construção de sentidos da sociedade. Percebemos assim, que os meios de comunicação e os avanços tecnológicos agora fazem parte de nossa sociedade, deixando para trás assuntos de extrema importância, como por exemplo, a fé.

Diante desses fatos, como pensar na fé cristã daqui á 20 ou 30 anos? Sendo que a geração – muitas vezes movida por tradições - que nos trouxe a esse mundo já perdeu a “força”. Mesmo que não fosse algo genuíno, muitos de nossos pais aprenderam a cultivar a fé e assim trouxeram a maioria de seus filhos em um “berço cristão”. Mas como poderemos discutir a fé cristã se vivemos em uma sociedade em que os jovens não querem mais levar uma vida á luz da Bíblia? E como considerar valores cristãos nessa sociedade pluralista, pragmática e mística?

O Doutor Samuel Escobar no Livro Pós-Modernidade afirma que:

“A Pós-Modernidade apresenta um desafio colossal à fé cristã. Ao longo de vinte séculos de história os cristãos viram-se muitas vezes enfrentando mudanças culturais (...), no seu longo processo histórico os cristãos tem visto ser colocada e recolocada a questão da relação entre o evangelho e a cultura. A Pós-Modernidade é um novo estabelecimento que parece ser muito mais radical do que os anteriores.” (1999, p.56)

Samuel Escobar nos leva á um questionamento que sempre esteve presente na história do cristianismo. Sabemos que o evangelho sempre enfrentou mudanças culturais, mas como poderemos conciliar evangelho e cultura em uma sociedade pós-moderna? Para Antônio Tadeu Ayres, no livro Como Entender a Pós-Modernidade, “vivemos em meio aos rompimentos das fronteiras sociais, as quebras de tabus, as novas moralidade, aos novos critérios éticos e a destruição dos sistemas de valores.” (1998, p.6). De fato, vivemos a pós-modernidade e esses são os desafios que estamos enfrentando, e que ainda teremos de enfrentar em nossa sociedade.



Como viver o novo?

Francis Schaeffer no Livro A Morte da Razão nos diz:

“Cada geração defronta com este problema de aprender como falar ao seu tempo de maneira comunicativa. É problema que não pode ser resolvido sem uma compreensão da situação existencial, em constante mudança, com que se defronta. Para que consigamos comunicar a fé cristã de modo eficiente, portanto, temos que conhecer e entender as formas de pensamento da nossa geração.” (1997, p.5)

Segundo Francis Schaeffer, devemos compreender as formas de pensamento de nossa geração, cujo contexto encontra-se sob a influência da Pós-Modernidade. Podemos sim, combater tudo aquilo que é contrário ao evangelho cristão, mas ao mesmo tempo devemos comunicar de forma eficiente aquilo que é segundo a Palavra de Deus.

Na pós-modernidade também observamos um grande pluralismo religioso. Mostrando que a salvação não possui um só caminho, mas diversos deles. Nenhuma religião, incluindo o Cristianismo, tem o direito de se achar a única dona da verdade. No pensamento pós-moderno não existe verdade absoluta, pois a verdade é relativizada, é o que diz Daniel Salinas no Livro Pós-Modernidade (1999, p.33-38)

Segundo o Teólogo Carlos Augusto Lopes, a geração pós-moderna é uma geração sem conteúdo, sem profundidade e que preza pelo hedonismo, niilismo e o narcisismo. Eles têm prazer no efêmero, não possuem sentimentos de culpa e valores permanentes.

A pós-modernidade por si só é um período de extrema dificuldade, mas também uma grande oportunidade para a fé cristã. O ser humano ainda está inseguro quanto ao seu futuro e órfão de valores da religião. A geração pós-moderna é extremamente liberal, amoral, apolítica, tecnológica e sem utopia. Vive uma vida privada e não pública, vivem na esfera do egocentrismo e da individualidade e não da comunidade. Esta geração adora o “supremo”, vive no mundo da superficialidade e não da profundidade, é consumista ao extremo e está sempre insatisfeita. Tem adotado um deus cósmico e místico, e não possui tempo para o sagrado, uma vez que seu tempo está sendo gasto com entretenimentos e pelos seus próprios prazeres.

Mas por outro lado, o evangelho cristão trás respostas para diversas indagações e também acabar com a inquietude dessa geração pós-moderna. É o que acrescenta o Teólogo Carlos Augusto Lopes, dizendo que “a geração pós-moderna é uma geração triste, complicada, cheia de solidão, de desesperança, de medo e que possui um vazio no coração.” Segundo ele, vivemos nesta aldeia global repleta de pessoas solitárias, depressivas e mistas entre fortaleza e fragilidade. E cabe a Igreja, comunicar Deus de forma sábia para que essa geração não seja engolida pela cultura genérica. Como disse John MacArthur: “Encontramos na pessoa de Jesus Cristo provisões suficientes para as nossas necessidades.” (1995, p.12)



Propostas para um mundo pós-moderno

Catalão Angel Castañeira, diz:

“Temos que revisar então o modelo de Jesus cujo ministério público foi essencialmente relacional. Ele andava no meio das multidões, ou então tinha encontros privados com determinadas pessoas, até mesmo de noite. Ele sabia o que era sentir o calor do meio-dia no deserto de Samaria, ou o frio da morte no quarto de um adolescente. Ele deixou-se tocar por uma mulher cerimonialmente impura, e tocou intencionalmente num leproso, isolado pela sociedade. Ele falou de situações cotidianas, de sal e lâmpada, de sementes e pastores de pais e filhos. Hoje, mais do que nunca, devemos seguir este modelo, se queremos alcançar a geração pós-moderna”
(Apud Salinas, 1999, p.46).

A citação acima nos mostra que Jesus soube comunicar o evangelho de Deus na sua época. Apesar das dificuldades, dos preconceitos e situações adversas, ele conseguiu romper as barreiras culturais de sua época. É o que diz o Teólogo Carlos Augusto Lopes:

“Cristo, no Sermão do Monte, nos mostra um caminho seguro para comunicar sua Palavra a essa geração pós-moderna [...]. A igreja de Cristo deve romper as barreiras e as fronteiras culturais e se apresentar para essa geração como “sal e luz”, e como guardadora da Verdade e praticadora da Verdade.

O missionário do Jovens da Verdade (SEPAL), Marcos Botelho, ainda acrescenta informações importantes para que possamos “combater” a pós-modernidade quanto á fé cristã. Ele relata que serve “Um Deus Jovem”, e que a sociedade erra quando julga nossa atual geração. Todas as gerações possuem seus pontos fracos – a pós-modernidade, muitos - e é costumeiro ouvirmos a fala de que a geração anterior vivia melhor do que esta, o que é errôneo. Segundo ele, não podemos desprezar o passado e nem impor o “certo” e o “errado”, mas reconhecer nossas diferenças e aprender com todas as gerações. O problema em questão, é que querem corrigir a nossa geração usando como padrão a geração passada. Ele ainda defende o argumento que devemos discutir cultura em cima de valores eternos e com missões transculturais e transgeracionais. Marcos Botelho ainda destaca que Deus não muda, não envelhece e é jovem. E que cada pessoa olha Deus e se identifica com a sua realidade, ou seja, o jovem pós-moderno pode ver Deus como jovem.

Também podemos considerar as palavras de Philip Kenneson, que diz:

“Nesta era, mais do que com palavras, evangelizemos com ações, com uma postura de amor pelos outros, com uma axiologia saturada pela ética e pelos valores do reino, e com uma mensagem encarnada, que saia dos templos e que se misture com a geração desencantada.”
(Apud Salinas, 1999, p.45).

Concluímos assim, que em tempos de pós-modernidade, muito mais do que em palavras, a fé cristã se fortalecerá a partir do momento que viver a diferença que nossa sociedade precisa. Enquanto a pós-modernidade foca no individualismo, pluralismo e hedonismo, o cristianismo tem de se mostrar coletivo, convicto de sua fé e mostrando amor pelo próximo.

Finalizamos este artigo com a citação do Teólogo Carlos Augusto Lopes, onde destaca os cinco pontos apresentados no Sermão do Monte que podem comunicar de forma objetiva o Evangelho á geração pós-moderna.
Primeiro: Ele diz que nós não podemos esconder nossa vida em argumentos racionais, mas encarar a nossa identidade. Mt. 5:13-16
Segundo: Nosso viver não pode ser só de palavras, mas de ação. Mt 7:24-27
Terceiro: Temos que ter amor pelos outros independentemente de serem nossos irmãos ou inimigos. Mt. 5:38-47
Quarto: Temos que ter uma epistemologia mediada por compaixão. Mt 5:7
Quinto e último: Temos que ter uma axiologia saturada pela ética e pelos valores do Reino. Mt 5:3-12; Mt 5:33


Saymon Medeiros,

Soli Deo Gloria.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Entre Balidos e Latidos


Estes dias fui entrar na casa de um amigo e ouvi o latido de um cachorro, mesmo ele falando que o cachorro dele não mordia, eu não quis entrar, fiquei receoso e não quis arriscar, pois pelo latido não parecia um cachorro pequeno.

Antes dos cachorros serem domesticados, quando eram selvagens e caçavam para comer, o seu latido era reconhecido e temido de longe, principalmente pelos pastores, pois os cães eram um dos predadores de suas ovelhas.

Poucos sabem, mas o barulho que as ovelhas fazem se chama balir, e é a única forma de “defesa” desse animal, se é que podemos chamar um grito de um animal de defesa.

Naquela época o pastor não tinha dúvida entre balidos e latidos, sabia claramente distinguir um e outro e sua reação, dependendo do barulho, era oposta. Uma era de defesa e outra era de acolhimento.

Mas o que era fácil naquela época é cada vez mais difícil hoje em dia.

Temos, como cristãos, que estar prontos para cuidar de pessoas. Esta não é uma “obrigação” apenas dos pastores e sim de todo aquele que um dia sentiu o cuidado de Deus.

Mas como é difícil sabermos o que é um balido ou um latido.

Em todas as áreas ouvimos críticas e reclamações e elas podem nos deixar mais fortes ou até nos destruir.

O grande problema é distinguir se a critica é um balido de uma ovelha precisando de ajuda, ser pastoreada, amparada ou, simplesmente ser ouvida, pois estes estão desesperados pedindo socorro e não sabem o que fazer, por isso reclamam.

Mas também tem os velhos fariseus, como diria Paulo: “cuidado com os cães” (Fp. 3:2). Estes criticam para destruir, para humilhar, por ciúmes ou para se exaltar. São latidos que repercutem por todos os lados e que se não estivermos atentos, poderão ser confundidos com os balidos.

Acredito que podemos crescer e aprender com qualquer tipo de crítica, mesmo sabendo que com os balidos é muito mais fácil.

Mas precisamos não errar em querer agradar os cães, pois eles não são o nosso foco e nem o nosso rebanho.

Vamos aprender com todas as críticas, mas não vamos gastar nosso tempo ou vida com os latidos, e sim com os balidos.

De: MarcosBotelho.com.br

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Duas orelhas e uma boca



“O que controla a sua boca preserva a vida, mas quem fala demais traz sobre si a ruína” (Pv 13.3).

Enquanto assistia à uma palestra, ele tuitava “isso aqui está tão chato”. O outro, desabafando, reclamava do chefe, dos colegas e de seu trabalho. A outra dizia que se espantava consigo mesma por estar tomando mais um porre em plena terça-feira. Uma ainda confessava as carências afetivas que a consumiam. Uma amiga minha resumiu bem esse cenário dizendo: “Metaforizando: Já perceberam que o Facebook é um divã e os psicanalistas somos nós?”
Nossa geração tem concentrado muita atenção nas redes sociais. Facebook, Twitter, Orkut e congêneres são os suportes utilizados para que as narrativas do eu se manifestem. “No que você está pensando agora?”, “O que está acontecendo?”, “Qual é a frase do seu perfil?”: essas perguntas têm nos provocado e temos respondido a elas. Sem dúvida, individualismo e subjetividade nunca estiveram tão evidentes.

Você pode opinar sobre tudo e todos. Você pode elaborar o discurso sobre si. Você está em evidência. Você tem espaço. Onde ficam os outros? E cadê aquela lógica, que a vovó ensinava, do “meu ouvido não é penico”? No exercício de ser e conviver, o eu precisa se dar conta do outro e do mundo, pois ele não subsiste sozinho e, se assim tenta ser, acaba por se anular.

Temos falado muito. Será que esquecemos do que, quando crianças, ouvíamos com frequência: temos duas orelhas e uma boca? Será que a internet tem reproduzido o comportamento típico humano do pouco ouvir e do muito falar? O que temos falado nas redes sociais?

O sábio Salomão – aviso, ele não tem Twitter, Facebook e nem Orkut que seja oficial – já advertia que controlar a boca preserva a vida. Será mesmo que as redes sociais são o melhor lugar para expressar o meu humor, as minhas dúvidas pessoais e percepções que tenho sobre os outros? Essa verborragia é válida pra quê?

Para que a pulga fique atrás da orelha, vale a pena pensar que Jesus Cristo disse que “a boca fala do que está cheio o coração” (Mt 12.34b). Que tal dar uma olhada para o meu coração hoje? Mas não preciso tuitar o que achei, né!?

De: ultimato.com.br

Entre os “SUPERS” e os “HERÓIS"


Os desenhos que mais gostava de assistir quando criança eram Comandos em Ação, Super-Amigos (Liga da Justiça) e Transformers (o desenho, primeiro e original, com o fusquinha amarelo bumblebee). Eram desenhos de heróis e vilões, mocinhos e bandidos, vitoriosos e fracassados. Como eu gostava e esperava por aqueles episódios cheios de emoção, de revira-voltas, de trabalho em equipe para vencer o inimigo! Como eu gostaria de ter “super-poderes” e super amigos para superar todos os obstáculos que surgiam na minha frente. Marcas da minha infância… será que somente da infância?!

Todos os dias, em determinadas situações, eu gostaria de ter super-poderes. Poder ler a mente das pessoas com quem estou conversando, ver o que acontece atrás das paredes onde pessoas estão falando sobre mIm, poder super-auditivo para chegar com respostas antes que perguntas sejam feitas, poder de raio laser para queimar as contas que estão para chegar, poder para fazer as pessoas entenderem o amor de Deus e se converterem. Gostaria de ser um super… mas gostaria de ser um herói?!

Super-heróis realmente têm seus super-poderes, capazes de salvar toda a humanidade da destruição intencionada pelos vilões de plantão. Mas existem outras coisas que não pensamos sobre os super-heróis: todo super-herói tem uma super-fraqueza que precisa ser escondida de todos, pois seus inimigos podem atacá-lo a qualquer momento e usar seu ponto fraco para vencê-lo. Os super-heróis têm uma identidade secreta que não pode ser revelada, pois colocaria em risco a vida de pessoas da sua família e círculo de amizades. Os super-heróis não têm férias nem tempo para si mesmo, precisam viver para o outro, precisam renunciar a si próprios porque a qualquer momento o mundo pode estar em perigo. Os super-heróis, neste ritmo, são pessoas amadas e adoradas, mas ao mesmo tempo vivem em profunda solidão e desespero. Esta história de super-heróis e super-poderes já está me incomodando!

Quando falamos da fé cristã, algumas coisas me chamam a atenção pela proximidade e também pela distância dos elementos comuns aos super-heróis. Enquanto que as super-fraquezas dos nossos heróis precisam ser escondidas, as nossas fraquezas precisam ser expostas, pois “a minha graça te basta, e o meu poder (de Deus) se aperfeiçoa na fraqueza (a minha)” (I Coríntios 2:9). É exatamente expondo nossas fraquezas que recebemos força e poder para enfrentar nossos inimigos, pois teremos cada vez mais consciência que somos “dependentes” da graça de Deus. Os candidatos a super-heróis precisam viver sob uma máscara, uma identidade secreta, e nós, ao contrário, somos chamados a expor a nossa verdadeira identidade, independente das conseqüências, pois Paulo nos ensina “Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou;” (Colossenses 3:9-10). Se os super-heróis vivem uma vida solitária, apesar de serem venerados e amados pelas pessoas de “boa índole”, nós somos convocados a viver em comunhão, como membros uns dos outros, formando um corpo cujo cabeça é Jesus Cristo (I Coríntios 12:12-27). Apesar de tantas distâncias, algo nos aproxima: os heróis não vivem para si, mas para o outro, e nós precisamos “ter a mesma atitude de Cristo, que, sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se, mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens…” (Filipenses 2:5-11 – NVI).

Nessas comparações não posso deixar de me referir àqueles que são colocados, na Bíblia, na “galeria dos heróis da fé”, como pessoas que pela fé conquistaram reinos, praticaram a justiça, alcançaram o cumprimento de promessas, fecharam a boca de leões, apagaram o poder do fogo e escaparam do fio da espada; da fraqueza tiraram força, tornaram-se poderosos na batalha e puseram em fuga exércitos estrangeiros. Houve mulheres que, pela ressurreição, tiveram de volta os seus mortos (Hebreus 11:33-35a). Pessoas extraordinárias que realizaram feitos que somente super-heróis poderiam realizar. Mas no mesmo texto, com a mesma qualificação de herói, Hebreus afirma que alguns foram torturados e recusaram ser libertados, para poderem alcançar uma ressurreição superior. Outros enfrentaram zombaria e açoites, outros ainda foram acorrentados e colocados na prisão, apedrejados, serrados ao meio, postos à prova, mortos ao fio da espada. Andaram errantes, vestidos de pele de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos e maltratados(Hebreus 11:33b-37). Peraí! Há algo de errado com este segundo grupo… super-heróis não são serrados ao meio nem mortos ao fio da espada! Podem até ser apedrejados, mas usam seus super-poderes para gerar com campo de força e se proteger, e, ir pra prisão é uma questão de estratégia para enganar o inimigo… mas derrotados?! Como pode um super-herói ser derrotado?!

Uma reviravolta nos conceitos de super-heróis… mesmo porque o final do texto refere-se a estes como pessoas que “o mundo não era digno deles” (v.38). Então super-herói nem sempre vence? Pode ser derrotado, pode fracassar, pode falhar na sua missão?! Super-heróis podem ser humilhados, expostos, envergonhados e mortos?

Neste vai-e-vem entre a ficção humana e a convicção bíblica percebo uma mudança total no que pode ser considerado como vida de herói. Não são mais os super-poderes, não são mais os grandes feitos, não são as máscaras e identidades secretas, não são as vitórias “admiráveis e espetaculares”. O verdadeiro “super-herói” é aquele que independente da circunstância (vitória ou derrota) é marcado por uma vida que testemunha a sua fé em Jesus Cristo. Morrer testemunhando, viver testemunhando, fechar a boca de leões testemunhando, ser serrado ao meio testemunhando. o poder é o Evangelho, a força é a Fé, a atitude é o Testemunho. Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta (Hebreus 12:1)

Vivendo ou morrendo, sempre vencendo, pois a nossa vitória é ser TESTEMUNHAS que mostrem o caminho para o alvo, Jesus Cristo, autor e consumador da nossa fé. Eu quero fazer parte desta nuvem!

Nem super, nem herói… Agora meu alvo é TESTEMUNHAR.

Rodolfo Franco Gois tem 29 anos, é casado com Daiane, pastor da Igreja Presbiteriana Independente Liberdade (Maringá/PR) e Diretor Pastoral do TeenStreet Brasil (www.teenstreetbrasil.com.br).

De: Ultimato.com.br/sites/jovem

Nosso dogma global


O homem busca coisas que ele considera “necessidades”, mas que no final podem o tornar escravos de uma rotina que o afasta de sua vocação e missão de vida.

A maioria da sociedade tem vendido a sua alma em troca daquilo que paga melhor. A mensagem, desde as instituições de ensino fundamental até as de nível superior, não é conhecimento, não é fornecer um universo ao estudante que possibilite um encontro, em primeiro lugar, com a sua cidadania e depois com ferramentas que vão ajudá-lo na construção de sua carreira para uma melhor interação com o mundo a sua volta. A mensagem dessas instituições é tão somente formar peças que vão compor as demandas do mercado profissional.
O que o ser humano aprende é que ele precisa se formar para “ser alguém na vida” pois, afinal de contas, o seu valor não é intrínseco. Ele aprende que precisa estudar, não por causa de sua construção como um indivíduo que nasce com um propósito, mas porque precisa atender essa demanda do mercado. O resultado disso é que toda a informação adquirida no seu tempo de estudo é esquecida depois de passar num concurso público, ou até mesmo depois de sair da universidade. Os conceitos aprendidos perdem sua aplicabilidade, pois só serviram de trampolim social.

Uma pessoa pode acordar todos os dias às seis da manhã, pegar sua condução, bater cartão, voltar as às cinco da tarde para a casa e, enfim, cumprir esse ritual até os últimos dias de sua vida sem ao menos questionar quem ela é ou qual legado deixará para futuras gerações? A necessidade de conforto cega e tira da pessoa a reflexão sobre a vida.

O problema não é o trabalho mas é a falta do entendimento de que o trabalho é consequência de um indivíduo que encontra a sua vocação, que sabe que nasceu para responder uma necessidade, dentro dessa dinâmica relacional em que vive com seu próximo.

Ao estar preso dentro de um modelo de vida que o leva sempre em busca de sua “realização pessoal”, o ser humano não consegue enxergar essa outra realidade possível. Uma realidade onde habita a justiça, a paz e a alegria no Espírito. Como já dizia o bom e velho mestre, buscar o Reino de Deus e a sua justiça deve ser a nossa prioridade. Só que quanto mais envolvidos estamos, como seres viventes, com as urgências do materialismo, menos ouvimos a dor de quem sofre com a injustiça, denunciamos aqueles que corrompem as leis e menos ainda somos felizes.

Sim, infelizes por optar pelo caminho mais fácil, por viver no lugar mais seguro, por seguir essa romaria global que nos afasta uns dos outros e, principalmente, da razão de nossa existência. Os felizes são os que tem “fome e sede de justiça, que agem com misericórdia, os que são puros de coração e os pacificadores”. Talvez estes sejam os que, de fato, são realizados.

Fica na minha mente a canção Capitão de Indústria da banda Os Paralamas do Sucesso: “eu não tenho o tempo de ter, o tempo livre de ser, de nada ter que fazer…, eu acordo prá trabalhar, eu durmo prá trabalhar, eu corro prá trabalhar”. O que nos resta depois disso?

Euro Mascarenhas tem 24 anos e trabalha com a JOCUM

De: Ultimato.com.br/sites/jovem

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Lá se vai Ronaldo


Lá se vai Ronaldo, o Fenômeno do futebol brasileiro. Lá se vai pouco depois de uma derrota do seu time. Lá se vai porque não dá mais espetáculo. A sociedade é implacavelmente furiosa contra quem não lhe dá os resultados esperados.

Lá se vai Ronaldo, o nosso artilheiro das Copas, porque agora a imaginação do seu drible não desce mais até suas pernas. A mente pode querer, mas o corpo não deseja. E no esporte, o corpo é soberano.

Lá se vai Ronaldo, esse que sabe como são efêmeras as glórias. Quem aplaude é quem vaia. Quem chama é quem despede. O resto é ilusão.

La se vai Ronaldo, certo que, não podendo fazer o que sempre fez, pode fazer o que ainda não fez.

Como Ronaldo, quantas vezes somos expulsos do circo, porque não domamos mais um leão por dia.

Como Ronaldo, precisamos saber que há tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou, tempo de dançar e tempo de chorar, tempo de abraçar e tempo de se conter. Só permanece para sempre o que Deus faz. (Eclesiastes 3)

Como Ronaldo, precisamos saber que nossa vida não acaba quando acaba aquilo que sabemos fazer. Podemos começar de novo, quando a bola fica para trás.

Se precisamos começar de novo, devemos começar de novo.

Alcançamos alguns alvos, mas outros ainda são possíveis.


*Publicado originalmente no site do autor, www.prazerdapalavra.com.br

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Que dia é hoje?



SENHOR, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração.

Antes que os montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, mesmo de eternidade a eternidade, tu és Deus.

Tu reduzes o homem à destruição; e dizes: Tornai-vos, filhos dos homens.

Porque mil anos são aos teus olhos como o dia de ontem que passou, e como a vigília da noite.

Tu os levas como uma corrente de água; são como um sono; de manhã são como a erva que cresce.

De madrugada floresce e cresce; à tarde corta-se e seca.

Pois somos consumidos pela tua ira, e pelo teu furor somos angustiados.

Diante de ti puseste as nossas iniqüidades, os nossos pecados ocultos, à luz do teu rosto.

Pois todos os nossos dias vão passando na tua indignação; passamos os nossos anos como um conto que se conta.

Os dias da nossa vida chegam a setenta anos, e se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, o orgulho deles é canseira e enfado, pois cedo se corta e vamos voando.

Quem conhece o poder da tua ira? Segundo és tremendo, assim é o teu furor.

Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios.

Volta-te para nós, SENHOR; até quando? Aplaca-te para com os teus servos.

Farta-nos de madrugada com a tua benignidade, para que nos regozijemos, e nos alegremos todos os nossos dias.

Alegra-nos pelos dias em que nos afligiste, e pelos anos em que vimos o mal.

Apareça a tua obra aos teus servos, e a tua glória sobre seus filhos.

E seja sobre nós a formosura do SENHOR nosso Deus, e confirma sobre nós a obra das nossas mãos; sim, confirma a obra das nossas mãos.

Sy Medeiros

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Como Viver num Mundo Mau


Todos os Heróis da fé viveram no mesmo mundo em que eu e vocês vivemos; o mundo foi sempre o mesmo. E no registro a respeito deles lê-se como se segue: "Os quais pela fé venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos leões, apagaram a força do fogo, escaparam do fio da espada, da fraqueza tiraram forças, na batalha se esforçaram, puseram em fugida os exércitos dos estranhos. As mulheres receberam pela ressurreição os seus mortos; uns foram torturados, não aceitando o seu livramento para alcançarem melhor ressurreição; e outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados (dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos e montes, e pelas covas e cavernas da terra".

Esse era o tipo de mundo no qual eles viveram. O nosso mundo não é pior; todavia é igualmente mau. Eles viveram num dia mau, e nós vivemos num dia mau. Mas aqueles homens triunfaram. Foram figuras heróicas, foram capazes de permanecer firmes, de resistir. Tendo feito tudo, permaneceram inabaláveis, ficaram fumes como homens, e até hoje se destacam na história como gigantes.

O segredo deles é que eles fizeram precisamente as coisas que os cristãos hebreus não estavam fazendo. Aqueles homens eram fortes "no Senhor e na força do seu poder"; eles "exercitavam os seus sentidos" para poderem entender a verdade de Deus; eram homens que sabiam diferenciar entre o bem e o mal. Vejam um homem como Moisés. Criado como filho da filha de Faraó, podia ter sido o herdeiro do trono. Entretanto ele pôs isso de lado, e o fez porque tinha os olhos postos "na recompen¬sa". Esse é o segredo de todos aqueles homens; e eu e vocês devemos observá-los e pensar bem no seu exemplo.

E desta maneira que aqueles homens do passado realmente nos ajudam. Vemo-los fazerem exatamente o que somos chamados a fazer. Eles correram a carreira, e triunfaram. Eles se edificaram a si mesmos na sua santíssima fé. Eles ficaram firmes contra as astúcias do diabo, apesar de todo o sofrimento por que passaram. Que homens magníficos! A história deles foi escrita para ajudar-nos e fortalecer-nos. Você não se sente melhor sempre que lê sobre eles? E um tônico excelente. Quando você achar que a luta está sendo demais para você, que tudo está contra você, e quando você se queixar de tudo o que lhe está acontecendo, leia o capítulo onze da Epístola aos Hebreus. Se no fim você não se envergonhar de si mesmo, você é um pobre cristão. E pobre cristão você será, se não se levantar e não disser: "Sim, eles fizeram aquilo no poder de Deus, e eu vou fazer o mesmo. Se Deus os capacitou, Ele me capacitará". Esse é o constante argumento das Escrituras. Tiago cita o caso de Elias. Diz ele: "Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós" (5:17). Não havia nada de peculiar em Elias que explicasse as coisas que ele fez; foi Deus que o capacitou. Muito bem, façam como ele, diz Tiago. E assim foi com todos eles. O livro de Jó é, todo ele, um grande tratado sobre este assunto. Considerem a paciência de Jó, e como Deus o tratou no fim, e o abençoou.

Ler a respeito desses homens ajuda-nos a fortalecer-nos e nos anima a prosseguir com os nossos exercícios. Se procedermos assim, viremos a ser como eles. Sigam-nos, sigam essa caravana de heróis; são homens como esses que devemos imitar e que devemos tomar por modelo.

E assim passamos ao nosso derradeiro princípio: "Portanto nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual pelo gozo que lhe estava proposto suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus. Considerai pois aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos. Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado". O Filho de Deus é a mensagem funda¬mental. "Olhando para Jesus", que veio deliberadamente a este mundo mal, a este mundo de guerras, pecado, vergonha e indignidade. Ele não pertencia a este mundo. Veio a ele deliberadamente; Ele sofreu e suportou a contradição dos pecadores contra Si. Ele "resistiu até ao sangue". E isso tudo "pelo gozo que lhe estava proposto". Ele tinha conhecimento do lugar para onde ia e da glória vindoura. Por isso "suportou a cruz, desprezando a afronta".

E desse modo que se faz exercício, é desse modo que se "corre a carreira" que nos é proposta. É desse modo que você se edifica em sua santíssima fé! Esta é a única mensagem para os homens e para as mulheres num mundo como o de hoje. Não podemos mudar as circuns¬tâncias, mas podemos triunfar nelas. Podemos ser: "mais do que vencedores"; e nos tornamos tais quando nos achamos "olhando para JESUS". Olhem para Ele! Olhem as noites que Ele passou em oração, olhem o Seu conhecimento da Palavra de Deus, olhem o modo como Ele "exercitava os Seus sentidos". E todos os que O seguem têm feito o mesmo; todos eles são Seus imitadores.

Devemos tornar-nos Seus imitadores. Devemos olhar para além dos homens, devemos olhar para o Filho de Deus e para o que Ele fez para "livrar-nos do presente século mau" (Gálatas 1:4), e introduzir-nos na glória que nos espera com Deus.

Cristãos, o inundo está olhando para vocês, esperando de vocês ensino, instrução, um exemplo de como viver vitoriosamente. Exercitem, pois, os seus sentidos, agarrem-se a estas coisas, olhem para os grandes heróis da fé, buscando deles inspiração. Acima de tudo, olhem para Jesus, "o autor e consumador da fé", e assim vocês se fortalecerão "no Senhor e na força do seu poder", e serão capazes de resistir no dia mau quando este chegar. Há somente um meio pelo qual podemos "ficar firmes" num tempo como esse, e é conhecer esta verdade, fortalecer-nos nela e, havendo feito tudo, "ficar firmes".

D. M. Lloyd-Jones

Por que o Caminho é Estreito?


"estreita é aporta e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem. " (Mat. 7:14).

Questão 1. Mas por que Deus fez o caminho para o céu tão difícil? Por que tanto trabalho?

Resposta 1. Para ensinar-nos a valorizar as coisas celestiais. Se a salvação viesse facilmente, não lhe daríamos o devido valor. Se os diamantes fossem comuns teriam pouca importância, entretanto, visto que são tão difíceis de serem conseguidos, são tão valorizados. Tertuliano conta que quando as pérolas eram comuns em Roma, as pessoas as usavam em seus sapatos, cujo próximo passo era esmagá-las sob seus pés. A salvação é uma pérola que Deus não permite ser desconsiderada. Portanto, deverá ser conseguida com trabalho santo. Deus não permitirá que baixem os preços das misericórdias espiritu ais. Aqueles que têm esta preciosa flor da salvação devem colhê-la com o suor de seus rostos.

Devemos trabalhar e nos esmerar para podermos estar qualificados para o céu. Um pai deixará sua herança ao filho, todavia primeiro ele lhe dará uma educação para que possa estar qualificado para ela. Deus nos dá a salvação, contudo primeiro Ele "nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz. " (Col. 1:12). Enquanto estamos trabalhando, estamos correndo e nos adequando para o céu. O pecado está sendo enfraquecido, a graça está sendo amadurecida. Enquanto estamos em combate, estamos nos preparando par a a coroa. Primeiro se amadurece o odre antes de colocar o vinho. Deus irá nos amadurecer com a graça antes de derramar o vinho da glória.

Questão 2. Mas se deve haver este trabalho, como se diz que o jugo de Cristo é suave?

Resposta 2. Para a parte carnal é difícil, porém onde há a infusão de um novo e santo princípio, o jugo de Cristo é suave. Não é um jugo, e sim uma coroa. Quando as rodas da alma são lubrificadas com graça, então um cristão se move no caminho da religião com facilidade e alegria. Uma criança se alegra em obedecer a seu pai. Para Paulo servir ao Senhor era o céu: "... segundo o homem interior tenho prazer na lei de Deus. " (Rom. 7:22). E quão rapidamente a alma é levada por essas asas! O serviço de Cristo é a liberdade de Cristo, portanto o apóstolo chama isso de "lei da liberdade " (Tg. 1:25).

Servir a Deus, amar a Deus, ter prazer em Deus, é a mais doce liberdade do mundo. Cristo não faz como fez Faraó: "... faziam servir os filhos de Israel com dureza " (Ex. 1:13), mas Ele põe sobre eles os constrangimentos do amor: " ...o amor de Cristo nos constrange... "(II Cor. 5:14). Seus preceitos não são cargas, são privilégios; não são obstáculos, são ornamentos. Portanto, Seu jugo é leve, mas para o homem não regenerado este fardo tem um peso que o atormenta e aborrece. Quando a corrupção prevalece, ainda o melhor coração encontra alguma relutância. É isso que precisa ser levado em conta quanto à primeira razão que citamos, a dificuldade do trabalho. A segunda razão porque precisamos de muito suor santo e esforço no desenvolvimento da salvação é devido à excelência desse traba lho. Pouco serão salvos, portanto devemos trabalhar o máximo que puder mos para estarmos entre esses poucos. O caminho para o inferno ó largo, ele está repleto de riquezas e prazeres. Ele tem uma rua de ouro, por isso há muitos que viajam por ele; no entanto, o caminho para o céu não lhes é atraente. Não é uma trilha batida, e poucos podem achá-la.

Os anunciadores da graça universal dizem que Cristo morreu intencionalmente por todos, mas então por que nem todos são salvos? As intenções de Cristo poderiam ser frustradas? Alguns afirmam tão grosseiramente que todos serão realmente salvos, porém não foi o que disse o Senhor Jesus: "estreita é aporta e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem. " (Mat. 7:14). Ora, como todos podem entrar por essa porta e poucos a encontrarem, para mim parece um paradoxo! A manada dos homens vai para o matadouro, "mas o remanescente será salvo. " (Rom. 9:27). A peça inteira é cortada e vai para o diabo. Somente um remanescente será salvo. A maioria das pessoas no mundo é fruto caído da árvore, derrubado pelo vento. Aquela oliveira em Is. 17:6 com duas ou três azeitonas na mais alta ponta dos ramos, é um símbolo apropriado do reduzido número daqueles que serão salvos. Satanás vai embora com a colheita, Deus tem somente alguns rabiscos. Nesta grande cidade se fizéssemos uma votação ou uma pesquisa de opinião, o diabo certamente venceria.

Baseado no que aprendemos, observe que se fôssemos dividir o mundo em trinta partes iguais, dezenove destas trinta estão cobertas de idolatria barbaresca, seis dos onze restantes com a doutrina de Maomé, de modo que restaria apenas cinco partes das trinta onde há um pouco de cristianismo. Entre estes "cristãos" há muitos seduzidos pelos papistas por um lado e protestantes formais por outro, de forma que há poucos que são salvos. Assim sendo, isso deve levar-nos a um esforço cada vez maior para fazermos parte do pequeno número daqueles que herdarão a salvação.

A terceira razão porque devemos pôr tanto vigor neste trabalho é devido a possibilidade do mesmo. A impossibilidade mata todo o esforço. Quem irá sofrer por algo que não tenha a esperança de conseguir? Mas "... no tocante a isto ainda há esperança para Israel. " (Esd. 10:2). A salvação é algo viável, ela pode ser conseguida. Ó amigos, embora a porta do paraíso seja estreita ela ainda está aberta. Está fechada para os demônios, aberta porém para vocês. Quem não se esforçaria por entrar por ela? É uma questão de livrar-se de seus pecados, remover esta fina camada de barro que os mascara, desinflar seu orgulho e assim talvez vocês possam entrar pela porta estreita. Esta possibilidade da salvação, aliás probabilidade, deve fazer com que vocês empenhem sua vida neste esforço. Se há alimento, por que continuarem por mais tempo morrendo de fome em seus pecados?

Thomas Watson (1620-1686)

Deus não tem pressa


Deus não tem pressa. Aliás, desconfio que ele não tenha relógio. Mas, ao contrário do que possa parecer, a frase "deus tarda, mas não falha" também não lhe diz respeito.

Acompanhe o que talvez seja a segunda proposta de trabalho de Deus ao homem. É bom lembrar que a primeira — feita a Noé —, da ideia à realização, levou não menos do que cem anos. Agora, trata-se de um projeto novo. Uma espécie de PAC (Plano Ancestral de Crescimento) da humanidade: "Quando Abrão estava com noventa e nove anos de idade o Senhor lhe apareceu e disse: ‘Eu sou o Deus todo-poderoso; ande segundo a minha vontade e seja íntegro. Estabelecerei a minha aliança entre mim e você e multiplicarei muitíssimo a sua descendência’" (Gn 17.1-2).

O leitor sabe do que Deus está falando. E não é a primeira vez que o Todo-Poderoso toca no assunto. Cinquenta anos antes, Deus havia sugerido uma mudança radical na vida do velho e manso Abraão. E, até agora, nada. Mas Deus repete as suas intenções.

Aqui, volto ao argumento inicial. Nós temos pressa — necessidade intensa de alcançar um objetivo. Não nos contentamos com o “enquanto”. A travessia não nos interessa, queremos chegar “lá”. No entanto, Deus não é assim. Ou você faria um contrato de longo prazo com alguém de 99 anos de idade? Mas, ao conversar com Abraão, como se fosse necessário, Deus relembra também quem ele [Deus] é. Depois, como se falasse a um bando de adolescentes com hormônios à flor da pele, reclama obediência e integridade. E, por último, com fina ironia, fala dos seus planos, claro, para o futuro...

Deus não tem pressa. Melhor, Deus tem tempo. E, graças a ele, mesmo sem saber exatamente que horas são, nós cabemos nos seus planos. Nesses dias corridos e em meio aos imprevistos, não há melhor consolo do que escutar: “Ainda dá tempo”... (Sl 90). Nas palavras de C. S. Lewis, "a Deus pertence o nosso futuro, não importa se o deixamos em suas mãos ou não".

Marcos Bontempo, de ultimato.com.br

sábado, 29 de janeiro de 2011

Por que eu deveria derramar lágrimas?


Não sou uma pessoa que chora com naturalidade e, em geral, consideram-me forte. Fui educado na Rugby School, uma daquelas famosas escolas “públicas” em que se aprende a filosofia da casca grossa, isto é, não se deve demonstrar qualquer emoção.

Porém, li os evangelhos e descobri neles o registro de que Jesus, nosso Senhor, chorou em público duas vezes: uma por causa da falta de arrependimento da cidade de Jerusalém (Lc 19.41) e outra por causa do sepultamento de Lázaro (Jo 11.35).

Deste modo, se Jesus chorou, seus discípulos presumivelmente poderiam fazê-lo.
Mas por que eu deveria derramar lágrimas? Não estava diante da falta de arrependimento nem da morte. Estaria eu afundado na autocomiseração, sob a perspectiva de uma lenta recuperação? Estaria lamentando minha queda e fratura? Estaria vislumbrando ali o fim do meu ministério? Não, na verdade eu não tive tempo de colocar meus pensamentos em ordem.

Tive uma experiência semelhante de lamento com meu amigo John Wyatt, que é professor de ética e perinatologia no hospital-escola da Universidade de Londres, e que se tornou famoso por defender a inviolabilidade da vida humana em debates públicos sobre aborto e eutanásia.
Quando ele me visitou no hospital, compartilhamos nossas experiências de fragilidade e dependência e ambos chegamos às lágrimas. Eis a forma como ele descreveu essa situação:

“Nos primeiros dias depois da cirurgia, John Stott foi acometido por episódios de desorientação e por distintas e alarmantes alucinações visuais. Além disso, havia a inevitável humilhação de receber os cuidados da enfermagem, e a preocupação com o futuro. Enquanto estávamos no hospital, conversando e compartilhando, lembrei-me da minha própria experiência de doença e caos, alguns anos antes. Lembro-me que estávamos em lágrimas, dominados por um poderoso sentimento comum de vulnerabilidade e debilidade humana. Foi uma experiência dolorosa, mas libertadora”.

A seguir a segunda e semelhante experiência, dessa vez com a contribuição de Sheila Moore, minha fisioterapeuta e amiga:

“Foi logo após o retorno para casa, depois de sua convalescença. Stott havia acabado de voltar para descansar em uma cadeira, quando, de repente, estremeceu e suspirou profundamente. Fui ver se ele se sentia mal e percebi que as lágrimas fluíam livremente. Ele estava vivenciando uma arrebatadora liberação de toda a carga emocional e dos desafios dos eventos recentes, que ele havia pacientemente suportado sendo “um paciente”. Não há palavras a serem ditas durante uma experiência tão profunda — somente uma empatia e uma confortante mão firme em seu ombro. Pouco a pouco, enquanto a emoção cedia, assegurei a ele que não se tratava de uma experiência incomum em tais circunstâncias, e que as lágrimas são um alívio e uma forma de cura muito valiosa”.

Essa experiência completamente “inusitada” aconteceu repentinamente; foi uma surpresa que causou certo choque e dor emocional. Racionalizar tais experiências talvez seja difícil, especialmente para homens, que tendem a vê-las como uma humilhação. Porém, se encaradas com honestidade, podem ser um alívio maravilhoso. É muito valioso encarar aqueles momentos como uma preparação dada por Deus para as mudanças que se encontrariam à frente, e como um presente especial da parte dele.

[Texto retirado, com permissão, de O discípulo Radical, de John Stott, lançamento da Editora Ultimato, em março de 2011.]

• John Stott conhecido no mundo inteiro como teólogo, escritor e evangelista, é autor de mais de quarenta livros, incluindo A Missão Cristã no Mundo Moderno, A Bíblia Toda, o Ano Todo, Por Que Sou Cristão e o campeão de vendas Cristianismo Básico. Ele é pastor emérito da All Souls Church, em Londres, e fundador do London Institute for Contemporary Christianity. Foi indicado pela revista Time como uma das cem personalidades mais influentes do mundo.

De: www.ultimato.com.br

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O perigo da alegria constante


Ligue a televisão em um desses canais com pregação ao vivo e espere cinco minutos. Talvez nem demore tanto para notar o discurso positivista que tem tomado conta da igreja cristã no Brasil. A venda da felicidade, da alegria constante, tem tirado o foco do sofrimento que Jesus tanto pregou em seus três anos de carreira aqui na Terra.

Lembro bem da passagem na qual Cristo percebe a multidão que o seguia apenas pelo interesse do milagre fácil, da cura instantânea, desatenta a real mudança de comportamento que o Mestre pregava, e inicia um discurso duro. Um a um, Jesus vai ganhando unfollows perdendo seguidores, até restarem apenas os 12 discípulos.

Como a música cristã no Brasil é muito vinculada à doutrina das igrejas, não demorou muito para que versos como "quem te viu passar na prova e não te ajudou / quando ver você na bênção vai se arrepender" surgissem. A mensagem quase-vingativa tomou o lugar das reflexões descompromissadas, que expressavam apenas a dor da alma que sofria em terra estranha.

Em tempos de relacionamentos superficiais dentro da própria igreja, o discurso da "alegria sempre" nunca se fez tão necessário. Pregar o sofrimento, a renúncia, se tornaram sinônimo de não-aceitação de mercado. A indústria cristã se tornou um negócio como qualquer outro. Se o artista não vende, fica sem gravadora. Simples assim.

Se artistas como Sérgio Lopes e Álvaro Tito, que cantaram a melancolia com afinco, lançassem seus primeiros discos nos dias de hoje, será que os conheceríamos? Consegue dimensionar o tamanho da perda a qual estamos sujeitos escolhendo apenas o que é feliz? Será que Antônio Almeida conseguiria emplacar Rude Cruz nas rádios gospel de sua cidade?

"Sim, eu amo a mensagem da cruz
Té morrer eu a vou proclamar
Levarei eu também minha cruz
Té por uma coroa trocar"

Nem só de alegrias é feita a vida. Assim também é a vida cristã.

De: http://blog.rafaelporto.com/

domingo, 23 de janeiro de 2011

Keith Green


O nome de Keith Green não é um dos mais conhecidos no Brasil. Boa parte dos crentes dá crédito ao Michael W. Smith, sem saber que o estilo piano-adoração foi inaugurado por outro jovem, quase trinta anos antes da série worship lançada pelo bonitão da música gospel. A história do artista surpreende não apenas pela qualidade musical, mas também pela própria vida.

Cresci cantarolando os versos Senhor bondoso és / tua face eu quero ver, de uma faixa que coloquei no repeat de meu mini system diversas vezes enquanto ouvia o disco de Marcos Góes (alguém ainda lembra dos longínquos e bons tempos da MK Publicitá?). Só muitos anos depois, quando tive acesso à internet, conheci o autor da canção original: Keith Green.


Morto há 28 anos, quando ainda tinha apenas 28 anos, e por incrível que pareça, em um dia 28, Keith deixou uma marca na música cristã contemporânea. Testemunha da grande mudança ocorrida no mundo durante as décadas de 60 e 70, Green foi além do gospel tradicional e compôs músicas profundamente atuais para a época - algumas me lembram muito o estilo do Elton John.


Fora dos palcos, provou a diferença que existe entre um autêntico cristão e um artista interessado em promoção pessoal: evangelizou prostitutas, drogados e cedeu os próprios bens em favor dos outros. Praticamente um Barnabé moderno, que pregava por meio da música e vivia o que compunha. Um exemplo.


Não bastasse a vida comovente, nos deu de presente Your Love Broke Throug, uma das músicas mais lindas que já ouvi na vida.

De: http://blog.rafaelporto.com/

Arte sem rótulo cristão


Luzes no palco, rock em alto volume e uma multidão de braços erguidos, em balanço sincronizado e sorriso aberto. No microfone ao centro, um jovem barbudo de cabelos cacheados empunha uma guitarra, cambaleia pelas melodias como um equilibrista bêbado, enquanto outros três amigos guiam com segurança o ritmo que faz bater o pé dos ouvintes mais contidos.

As camisetas estampam mensagens de atitude, denunciam a fé e o vigor juvenil dos integrantes do Palavrantiga. "Feito de barro", exibe discretamente no peito o vocalista Marcos Almeida, enquanto espalha sua feliz mensagem de esperança em melodias melancólicas. É noite de sexta-feira e, ao meu lado, centenas de homens e mulheres acompanham cada verso a plenos pulmões.

A cena toda ocorre dentro da igreja Missão Praia da Costa, em Vila Velha (ES). Ao fim do espetáculo - que em nenhum momento deixa de parecer um culto - me identifico, conheço de perto os integrantes da banda, sou lembrado pela sincera crítica feita ao disco - da qual pude me explicar mais tarde -, e combinamos um almoço para o dia seguinte. Cantarolando as músicas novas que embalaram a noite, volto para casa e espero o horário marcado.



Arte cristã?

Mineiros e capixabas estão reunidos em uma longa mesa e, entre um pedaço e outro de picanha, começo a entender um pouco mais da cosmovisão - termo frequente no vocabulário de Marcos - que rege as letras da banda. Depois de algumas horas compartilhando experiências, sou informado que o Palavra - nome carinhoso com o qual se referem ao grupo - foi convidado para abrir um dos shows do E.M.I.C.I.D.A em São Paulo.

O rapper brasileiro, emergente na cena do hip hop, recentemente foi pauta de grandes revistas nacionais (veja ótima entrevista concedida a Pedro Alexandre Sanchez para a Bravo! aqui). "Dizem que os caras da Rolling Stone vão estar lá. Já pensou, cara?", sonha o vocalista. Na rápida conversa que sucede a novidade, fica evidente o feito alcançado pela banda: mais uma vez, romperam o circuito cristão e alcançaram notoriedade além do rótulo que os persegue.

Por sinal, rótulo este rejeitado com veemência. "Quem acompanha o Palavrantiga não está desenganado a respeito da gente. Primeiro que a gente não é uma banda com fins religiosos. Todo mundo sabe disso. Alguns chamam a gente de gospel, outros de cristãos, mas a gente nunca denominou o Palavrantiga com estes termos. Isto é coisa que outros estão dizendo a respeito da gente. A gente enxerga o mundo de forma muito mais simples, embora outros possam enxergar de forma complicada", justifica Marcos.

"Tem muita gente ganhando mídia, palanque e espaço na internet, nas novas mídias, batendo no meio evangélico mas sem propor ou criar um novo pensamento. Não se propõe nada, o máximo que tentam é chamarem a si mesmos de criativos, inteligentes. Aí eu pergunto: 'mas o que você propôs, brother? Você ainda faz divisão do mundo em sacro e profano, só é um pouquinho mais sofisticado, usando um vocabulário diferente'" (Marcos)

Este "enxergar de forma complicada", citado pelo vocalista, se estende à igreja, aos meios de comunicação e, por que não?, aos artistas cristãos. "O que valida, fundamenta, justifica o fato de fazer música? Se for outra coisa a não ser arte, você a está subjugando a outra esfera, que talvez pode diminuí-la. O que algumas pessoas fazem é se esconder dentro de um argumento eclesiológico, um argumento da esfera epísitica pística, [para entender mais sobre o conceito, leia aqui, por indicação de Marcos] religiosa, pra validar seu trabalho de artista, sendo que são esferas interdependentes", explica.

Unção x Qualidade

Almoço terminado, seguimos para mais uma rodada de perguntas, desta vez, na casa do baterista Lucas Fonseca. Acomodados na sala, conversamos mais um pouco sobre os rumos da música cristã. Ponho em xeque a postura de alguns artistas, que insistem em comercializar músicas rasas sob o pretexto de serem "cheios de unção" - parâmetro imprescindível, tendo em vista que todo cristão possui o Espírito Santo como guia. Marcos responde.

"Não é porque você tem fé que a sua canção é válida. Pode fazer uma canção que é uma porcaria, horrível. Existe o belo e o feio. E tem gente que pode fazer uma canção feia e ter unção. Entendeu? Mas aí é o seguinte: o que você vai estar avaliando quando o brother está compartilhando a música dele? No contexto religioso, da igreja, o importante ainda é a mensagem, a unção, porque a igreja ainda não criou um espaço para apreciar", resume.

* Você sabia?
* Os integrantes se conheceram enquanto faziam turnê como banda de apoio de Heloísa Rosa, conhecida por ministrar com David Quinlan
* Marcos, que era tecladista de Heloísa, se juntou a Lucas, Felipe e Josias apenas em 2008 como Palavrantiga
* Neste curte período, o Palavrantiga foi convidado pelo tecladista do Skank, Henrique Portugal, para tocar em eventos de bandas alternativas
* O grupo é um dos destaques do Oi Novo Som!, projeto da Oi FM para divulgar novas bandas brasileiras

Fora da igreja, porém, se faz necessário abrir espaço para a apreciação, concordam os integrantes da banda. Lucas defende o fim da "poda artística" dentro das igrejas, ambientes onde a expressão deve sempre estar vinculada à devoção. O baterista hierarquiza três pontos que considera fundamentais para a boa arte, citando um crítico holandês [não consegui encontrar mais referências na internet], Rookmaker. "Primeiro, a qualidade dela [da arte], a técnica; segundo, se ela tinha uma verdade, se não era uma coisa reducionista, distorcida; e terceiro, a integralidade da arte. São três pontos que o cara sempre falava: 'nem toda a arte cristã tem isso, e muita coisa do meio tradicional artístico se encaixa nestes pontos'", lembra. [A banda sugeriu o áudio de uma palestra de Rodolfo Amorim, na qual disserta sobre o crítico holandês. Ouça aqui]

Igreja

Para Marcos Almeida, a discussão envolvendo rótulos, qualidade e unção tem sido feita no ambiente errado. A igreja, segundo classifica, continua sendo o lugar para apenas "acolher pessoas e ensinar o evangelho". Torná-la um ambiente para debates, diluindo sua função principal, "é dar à esfera pística, uma coisa que não é da alçada dela", lamenta.

Em meio à profundidade dos temas discutidos, é inevitável não perceber quão bem embasados estão todos os membros do Palavrantiga. Parte disso, deve-se à biblioteca transportada durante as viagens da mini-turnê. Ao invés de discos e música em alto volume - como vemos nos filmes -, livros e silêncio estão por toda a parte. Obras de CS Lewis, John Stott, e outros que não consegui discernir (por culpa do inglês com sotaque mineiro do vocalista) deixam para trás o esteriótipo de que bandas de rock e literatura não combinam.


Dentre as influências brasileiras, estão os autores Guilherme de Carvalho e Rodolfo Amorim, referidos como amigos. Crítico confesso do modo de confissão artística praticado no país, Marcos vai de encontro à postura dos cristãos. "[O crente] Precisa ler coisas diferentes. Poderiam existir associações artísticas que não necessariamente precisariam de um aval ou investimento do pastor. O que impede artistas cristãos de se reunirem, ter a ideia de construir um café, uma livraria?", sugere o vocalista.

"Mas se você tirar o consumo de dentro da liturgia do culto, eliminar este conceito de que, ao comprar um disco, abençoa o ministério de fulano, a estratégia funcionaria?", questiono. "Não", rebate instantaneamente Marcos. "Teria que mudar a visão de mundo e isso é um processo cultural. Talvez, o que estamos debatendo aqui só nossos filhos vão ter a tranquilidade de realizar", lamenta o artista, pela primeira vez, refém das mentes que não pôde mudar com seus questionamentos em forma de música.

De: http://blog.rafaelporto.com/