quarta-feira, 29 de junho de 2011

Pós-Modernidade: Ainda há espaço para a fé cristã?


Pós-Modernidade e seus desafios

O mundo mudou e podemos considerar essas mudanças como um novo padrão de vida da sociedade. Fenômenos culturais, sociais, artísticos e políticos influenciaram nossa sociedade a este avanço sócio-cultural, que chamamos de pós-modernidade.

A pós-modernidade tem se tornado evidente em nossos dias. É impossível desconsideramos que somos, vivemos, e certamente vamos passar o resto de nossas vidas num mundo pós-moderno. O fluxo de informações tomou o lugar dos meios de comunicação e podemos identificar essas características com o aceleramento da produção tecnológica e a expansão dos produtos de alta tecnologia. Os meios de comunicação começam a tomar outro rumo, inclusive influenciando na construção de sentidos da sociedade. Percebemos assim, que os meios de comunicação e os avanços tecnológicos agora fazem parte de nossa sociedade, deixando para trás assuntos de extrema importância, como por exemplo, a fé.

Diante desses fatos, como pensar na fé cristã daqui á 20 ou 30 anos? Sendo que a geração – muitas vezes movida por tradições - que nos trouxe a esse mundo já perdeu a “força”. Mesmo que não fosse algo genuíno, muitos de nossos pais aprenderam a cultivar a fé e assim trouxeram a maioria de seus filhos em um “berço cristão”. Mas como poderemos discutir a fé cristã se vivemos em uma sociedade em que os jovens não querem mais levar uma vida á luz da Bíblia? E como considerar valores cristãos nessa sociedade pluralista, pragmática e mística?

O Doutor Samuel Escobar no Livro Pós-Modernidade afirma que:

“A Pós-Modernidade apresenta um desafio colossal à fé cristã. Ao longo de vinte séculos de história os cristãos viram-se muitas vezes enfrentando mudanças culturais (...), no seu longo processo histórico os cristãos tem visto ser colocada e recolocada a questão da relação entre o evangelho e a cultura. A Pós-Modernidade é um novo estabelecimento que parece ser muito mais radical do que os anteriores.” (1999, p.56)

Samuel Escobar nos leva á um questionamento que sempre esteve presente na história do cristianismo. Sabemos que o evangelho sempre enfrentou mudanças culturais, mas como poderemos conciliar evangelho e cultura em uma sociedade pós-moderna? Para Antônio Tadeu Ayres, no livro Como Entender a Pós-Modernidade, “vivemos em meio aos rompimentos das fronteiras sociais, as quebras de tabus, as novas moralidade, aos novos critérios éticos e a destruição dos sistemas de valores.” (1998, p.6). De fato, vivemos a pós-modernidade e esses são os desafios que estamos enfrentando, e que ainda teremos de enfrentar em nossa sociedade.



Como viver o novo?

Francis Schaeffer no Livro A Morte da Razão nos diz:

“Cada geração defronta com este problema de aprender como falar ao seu tempo de maneira comunicativa. É problema que não pode ser resolvido sem uma compreensão da situação existencial, em constante mudança, com que se defronta. Para que consigamos comunicar a fé cristã de modo eficiente, portanto, temos que conhecer e entender as formas de pensamento da nossa geração.” (1997, p.5)

Segundo Francis Schaeffer, devemos compreender as formas de pensamento de nossa geração, cujo contexto encontra-se sob a influência da Pós-Modernidade. Podemos sim, combater tudo aquilo que é contrário ao evangelho cristão, mas ao mesmo tempo devemos comunicar de forma eficiente aquilo que é segundo a Palavra de Deus.

Na pós-modernidade também observamos um grande pluralismo religioso. Mostrando que a salvação não possui um só caminho, mas diversos deles. Nenhuma religião, incluindo o Cristianismo, tem o direito de se achar a única dona da verdade. No pensamento pós-moderno não existe verdade absoluta, pois a verdade é relativizada, é o que diz Daniel Salinas no Livro Pós-Modernidade (1999, p.33-38)

Segundo o Teólogo Carlos Augusto Lopes, a geração pós-moderna é uma geração sem conteúdo, sem profundidade e que preza pelo hedonismo, niilismo e o narcisismo. Eles têm prazer no efêmero, não possuem sentimentos de culpa e valores permanentes.

A pós-modernidade por si só é um período de extrema dificuldade, mas também uma grande oportunidade para a fé cristã. O ser humano ainda está inseguro quanto ao seu futuro e órfão de valores da religião. A geração pós-moderna é extremamente liberal, amoral, apolítica, tecnológica e sem utopia. Vive uma vida privada e não pública, vivem na esfera do egocentrismo e da individualidade e não da comunidade. Esta geração adora o “supremo”, vive no mundo da superficialidade e não da profundidade, é consumista ao extremo e está sempre insatisfeita. Tem adotado um deus cósmico e místico, e não possui tempo para o sagrado, uma vez que seu tempo está sendo gasto com entretenimentos e pelos seus próprios prazeres.

Mas por outro lado, o evangelho cristão trás respostas para diversas indagações e também acabar com a inquietude dessa geração pós-moderna. É o que acrescenta o Teólogo Carlos Augusto Lopes, dizendo que “a geração pós-moderna é uma geração triste, complicada, cheia de solidão, de desesperança, de medo e que possui um vazio no coração.” Segundo ele, vivemos nesta aldeia global repleta de pessoas solitárias, depressivas e mistas entre fortaleza e fragilidade. E cabe a Igreja, comunicar Deus de forma sábia para que essa geração não seja engolida pela cultura genérica. Como disse John MacArthur: “Encontramos na pessoa de Jesus Cristo provisões suficientes para as nossas necessidades.” (1995, p.12)



Propostas para um mundo pós-moderno

Catalão Angel Castañeira, diz:

“Temos que revisar então o modelo de Jesus cujo ministério público foi essencialmente relacional. Ele andava no meio das multidões, ou então tinha encontros privados com determinadas pessoas, até mesmo de noite. Ele sabia o que era sentir o calor do meio-dia no deserto de Samaria, ou o frio da morte no quarto de um adolescente. Ele deixou-se tocar por uma mulher cerimonialmente impura, e tocou intencionalmente num leproso, isolado pela sociedade. Ele falou de situações cotidianas, de sal e lâmpada, de sementes e pastores de pais e filhos. Hoje, mais do que nunca, devemos seguir este modelo, se queremos alcançar a geração pós-moderna”
(Apud Salinas, 1999, p.46).

A citação acima nos mostra que Jesus soube comunicar o evangelho de Deus na sua época. Apesar das dificuldades, dos preconceitos e situações adversas, ele conseguiu romper as barreiras culturais de sua época. É o que diz o Teólogo Carlos Augusto Lopes:

“Cristo, no Sermão do Monte, nos mostra um caminho seguro para comunicar sua Palavra a essa geração pós-moderna [...]. A igreja de Cristo deve romper as barreiras e as fronteiras culturais e se apresentar para essa geração como “sal e luz”, e como guardadora da Verdade e praticadora da Verdade.

O missionário do Jovens da Verdade (SEPAL), Marcos Botelho, ainda acrescenta informações importantes para que possamos “combater” a pós-modernidade quanto á fé cristã. Ele relata que serve “Um Deus Jovem”, e que a sociedade erra quando julga nossa atual geração. Todas as gerações possuem seus pontos fracos – a pós-modernidade, muitos - e é costumeiro ouvirmos a fala de que a geração anterior vivia melhor do que esta, o que é errôneo. Segundo ele, não podemos desprezar o passado e nem impor o “certo” e o “errado”, mas reconhecer nossas diferenças e aprender com todas as gerações. O problema em questão, é que querem corrigir a nossa geração usando como padrão a geração passada. Ele ainda defende o argumento que devemos discutir cultura em cima de valores eternos e com missões transculturais e transgeracionais. Marcos Botelho ainda destaca que Deus não muda, não envelhece e é jovem. E que cada pessoa olha Deus e se identifica com a sua realidade, ou seja, o jovem pós-moderno pode ver Deus como jovem.

Também podemos considerar as palavras de Philip Kenneson, que diz:

“Nesta era, mais do que com palavras, evangelizemos com ações, com uma postura de amor pelos outros, com uma axiologia saturada pela ética e pelos valores do reino, e com uma mensagem encarnada, que saia dos templos e que se misture com a geração desencantada.”
(Apud Salinas, 1999, p.45).

Concluímos assim, que em tempos de pós-modernidade, muito mais do que em palavras, a fé cristã se fortalecerá a partir do momento que viver a diferença que nossa sociedade precisa. Enquanto a pós-modernidade foca no individualismo, pluralismo e hedonismo, o cristianismo tem de se mostrar coletivo, convicto de sua fé e mostrando amor pelo próximo.

Finalizamos este artigo com a citação do Teólogo Carlos Augusto Lopes, onde destaca os cinco pontos apresentados no Sermão do Monte que podem comunicar de forma objetiva o Evangelho á geração pós-moderna.
Primeiro: Ele diz que nós não podemos esconder nossa vida em argumentos racionais, mas encarar a nossa identidade. Mt. 5:13-16
Segundo: Nosso viver não pode ser só de palavras, mas de ação. Mt 7:24-27
Terceiro: Temos que ter amor pelos outros independentemente de serem nossos irmãos ou inimigos. Mt. 5:38-47
Quarto: Temos que ter uma epistemologia mediada por compaixão. Mt 5:7
Quinto e último: Temos que ter uma axiologia saturada pela ética e pelos valores do Reino. Mt 5:3-12; Mt 5:33


Saymon Medeiros,

Soli Deo Gloria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário