terça-feira, 1 de novembro de 2011

HOMENAGEM A REFORMA PROTESTANTE: PILARES DA FÉ EVANGÉLICA: SAÚDE, ENSINO E LEGADO


Martinho Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483, no sopé da montanha do Harz na cidade de Eislebem. O reformador Martinho Lutero era filho de um minerador de prata de classe média. O jovem foi destinado para estudar direito, porém, assustado durante uma tempestade perigosa numa estrada próximo de Erfurt, ele prometeu a Santa Ana tornar-se monge caso fosse livre.

Todavia o que levou Lutero a tomar o hábito foi o seu profundo interesse pela própria salvação. Em junho de 1505, antes de completar os vinte e dois anos de idade, Lutero ingressou no Mosteiro Agostinho de Erfurt. Desgostoso com a Igreja Romana em 31 de outubro de 1517, Lutero afixou suas 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg e fez a reforma protestante.

Pesquisas recentes no campo da história da reforma diz que Lutero em vez de afixar as 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg, ele enviou as teses para o seu bispo Gerônimo Schulz, de Brandemburgo. O fato é que Lutero rompeu com Status quo do tacão da religiao fria, excludente, intimista, clerical, vazia e manca que nutria em sua base uma hermeneutica estranha, confusa e ditatorial, fazendo assim a reforma protestante celebrada e comemorada no dia 31 de outubro "Dia da Reforma".

João Calvino Teólogo protestante francês nasceu na Picardia, e estudou filosofia na universidade de Paris entre 1523 e 1527. Em 1528, recebeu o grau de mestre em teologia. Em 1536 na Suíça publicou sua grande obra com 26 anos, As Institutas.

Calvino faleceu a 27 de maio de 1564, foi um dos grandes teólogos e reformador que sistematizou a teologia, escreveu vários comentários da Bíblia e foi fiel a Deus em seu ministério como pastor, exegeta e reformador. O teólogo alemão Karl Bart disse que Calvino é uma catarata, uma floresta primitiva, na qual ele se assentaria e passava o resto da sua vida somente com Calvino.

A Reforma Protestante tem nos deixado um fabuloso tesouro doutrinário oriundo da própria Palavra de Deus e omitido e esquecido por vários gerações. Muitos foram os servos de Deus que lutaram pela reforma como John Wicliff, João Huss, Savonarola, Zwínglio, Tyndale etc. Para isso, admitimos e transmitimos as verdades da nossa tradição eclesiástica: “Sola Scriptura, Sola Christi, Sola Gratia, Sola Fide, Soli Deo Glória.” São esses cinco termos latinos que devem sintetizar a nossa fé cristã, pois todo o ensino sadio da Bíblia tem aqui seu fundamento clássico.

Sola Scriptura (Somente a Escritura) Segundo Heinrich Heppe, a Sagrada Escritura é única fonte e norma para todo o conhecimento cristão. Logo a base dos ensinamentos é, e sempre será, a Escritura Sagrada, que está acima da tradição, da razão, do pragmatismo, da cultura, acima de tudo. O cristão autêntico deve sempre ser dirigido pela palavra de Deus.

Com Sola Scriptura queremos afirmar que a Bíblia é a palavra de Deus, que ela é inerrante, infalível e que tem autoridade em tudo. Essa doutrina é importante para a purificação, crescimento e preservação da igreja. Segundo a Declaração de Cambridge, “...a obra do Espírito Santo na experiência pessoal não pode ser desvinculada da Escritura. A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para a nossa salvação do pecado e é o padrão pela qual todo comportamento cristão deve ser avaliado

Sola Christi (Somente Cristo) Cremos piamente que somente Cristo Jesus, o Filho de Deus, pode salvar o homem (Jo. 3.16), que não existe mais ninguém que possa mediar o homem a Deus (ITm. 2.5), nem justificá-lo, se não for Cristo, o Senhor (Rm. 5.1), pois somente ele e mais ninguém é o caminho a verdade e a vida (Jo.8.33).

É preciso que entendamos que somente ele e mais ninguém pode perdoar os nossos pecados (Jo. 1.29) e nos dar vida eterna (Jo.1 0.10). A Declaração de Cambridge conclui: “Por isso reafirmamos que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória do Cristo histórico. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai”.

Sola Gratia ( Somente a Graça) É a Doutrina da Graça, na Bíblia, que aponta todos os méritos para Cristo. Com a sola gratia queremos afirmar, como igreja de Cristo, que a salvação do homem pecador é obra exclusiva da graça de Deus. O homem pecador não tem poder para se salvar e nem para viver de maneira bíblica, neste mundo.

Como sublinha a Bíblia em Tito 2.11, somente Deus pode ofertar isso para o homem: “Por que a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens”. A Bíblia também diz em Efésios 2.8-9 o seguinte: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus não vem de obras, para que ninguém se glorie”.

Sola Fide (Somente a Fé) É pela graça de Deus que somos justificados, mediante a fé em Cristo Jesus. A fé é um dom de Deus, como diz a Bíblia em Romanos 1.16.17 “Porque não me envergonho do Evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego. Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: O justo viverá da fé”.

A fé salvífica é uma confiança plena no sacrifício de Jesus Cristo por mim, logo, eu obedeço a ele e me sujeito a ele, pois justificado através d’Ele eu vivo de fé em fé. É importante dizer também que a fé não é um sentimento vago. O homem não pode ser salvo se ele não crer inteiramente no sacrifício de nosso Senhor Jesus Cristo (Ef.2:8-9).

Soli Deo Glória (Somente a Deus a Glória) Cremos que o único que pode receber toda a glória é somente Deus (Mt. 5.16; I Cor.10.31; Ef.3.21); que o homem é um ser que glorifica a Deus e não um ser que recebe a glória (Rm. 15.5-6; I. Cor.3.21). O humanismo tem colocado o homem num patamar que a Bíblia não coloca (Jer. 9.24). A Bíblia deixa claro que Deus é o único que pode receber toda a glória (Sal. 29.8; Lc. 2.14; Rm. 11.36), pois tudo vem das Suas mãos — Tanto a graça comum (Sal. 19.1; Mt. 5.45) quanto a graça salvífica (I Co. 6.20). O breve Catecismo de Westminster (1647) sublinha: “Qual é o fim principal do homem? O fim principal do homem é glorificar a Deus e alegrá-lo para sempre". O próprio Jesus Cristo definiu a sua vida e ministério dizendo: "Eu te glorifiquei na terra” (Jo. 17.4) É assim que deve ser a igreja, que é fiel a Deus: Ela deve glorificar a Deus em tudo.

Pastor Carlos Augusto Lopes
Teólogo

domingo, 17 de julho de 2011

A Maior de todas as Virtudes


M. Lloyd-Jones

Tenho por vezes notado a tendência de nem sequer dar valor ao que a Bíblia considera como a maior de todas as virtudes, a saber, a humildade. Numa comissão ouvi pessoas discutindo sobre certo candidato e dizendo: “Sim, muito bom; mas lhe falta personalidade”. Quanto na minha opinião sobre aquele candidato específico era que ele era humilde.

Existe a tendência de justificar a atitude de uma pessoa em fazer uso de si próprio e de sua personalidade e de tentar projetá-la, impondo aos outros a sua aceitação. Os anúncios publicitários que estão sendo crescentemente empregados em conexão com a obra cristã proclamam em alto e bom som essa tendência.
Leia os antigos relatos das atividades dos maiores obreiros de Deus, dos grandes evangelistas e outros, e verá como procuravam apagar-se a si próprios. Hoje porém, estamos experimentando algo que é quase o completo inverso disso.

Que significa isso? “Não pregamos a nós mesmos” – diz Paulo – “mas a Cristo Jesus, como Senhor”. Quando visitou Corinto, conta-nos ele, foi para ali “em fraqueza, temor e grande tremor”. Não subia a plataforma com confiança, segurança e desenvoltura, dando a impressão de uma grande personalidade. Antes, o povo dizia dele “a presença pessoal dele é fraca, e a palavra desprezível”.


Quão grande é a nossa tendência de desviar-nos da verdade e do padrão das Escrituras. Como a Igreja está permitindo que o mundo e os seus métodos influenciam e dirijam a sua perspectiva e a sua vida!!

Que pena! Ser “pobre de espírito” não é tão popular, mesmo na Igreja, como o foi outrora e sempre deveria ser. Os crentes devem reconsiderar essas questões. Não julguemos as coisas segundo a aparência do seu valor; acima de tudo, cuidemos para não sermos cativados por essa psicologia mundana; e tratemos de entender, desde o princípio, que estamos no domínio de um reino diferente de tudo quanto pertence a este “presente mundo mau”.

De: Liga Calvinista

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Pós-Modernidade: Ainda há espaço para a fé cristã?


Pós-Modernidade e seus desafios

O mundo mudou e podemos considerar essas mudanças como um novo padrão de vida da sociedade. Fenômenos culturais, sociais, artísticos e políticos influenciaram nossa sociedade a este avanço sócio-cultural, que chamamos de pós-modernidade.

A pós-modernidade tem se tornado evidente em nossos dias. É impossível desconsideramos que somos, vivemos, e certamente vamos passar o resto de nossas vidas num mundo pós-moderno. O fluxo de informações tomou o lugar dos meios de comunicação e podemos identificar essas características com o aceleramento da produção tecnológica e a expansão dos produtos de alta tecnologia. Os meios de comunicação começam a tomar outro rumo, inclusive influenciando na construção de sentidos da sociedade. Percebemos assim, que os meios de comunicação e os avanços tecnológicos agora fazem parte de nossa sociedade, deixando para trás assuntos de extrema importância, como por exemplo, a fé.

Diante desses fatos, como pensar na fé cristã daqui á 20 ou 30 anos? Sendo que a geração – muitas vezes movida por tradições - que nos trouxe a esse mundo já perdeu a “força”. Mesmo que não fosse algo genuíno, muitos de nossos pais aprenderam a cultivar a fé e assim trouxeram a maioria de seus filhos em um “berço cristão”. Mas como poderemos discutir a fé cristã se vivemos em uma sociedade em que os jovens não querem mais levar uma vida á luz da Bíblia? E como considerar valores cristãos nessa sociedade pluralista, pragmática e mística?

O Doutor Samuel Escobar no Livro Pós-Modernidade afirma que:

“A Pós-Modernidade apresenta um desafio colossal à fé cristã. Ao longo de vinte séculos de história os cristãos viram-se muitas vezes enfrentando mudanças culturais (...), no seu longo processo histórico os cristãos tem visto ser colocada e recolocada a questão da relação entre o evangelho e a cultura. A Pós-Modernidade é um novo estabelecimento que parece ser muito mais radical do que os anteriores.” (1999, p.56)

Samuel Escobar nos leva á um questionamento que sempre esteve presente na história do cristianismo. Sabemos que o evangelho sempre enfrentou mudanças culturais, mas como poderemos conciliar evangelho e cultura em uma sociedade pós-moderna? Para Antônio Tadeu Ayres, no livro Como Entender a Pós-Modernidade, “vivemos em meio aos rompimentos das fronteiras sociais, as quebras de tabus, as novas moralidade, aos novos critérios éticos e a destruição dos sistemas de valores.” (1998, p.6). De fato, vivemos a pós-modernidade e esses são os desafios que estamos enfrentando, e que ainda teremos de enfrentar em nossa sociedade.



Como viver o novo?

Francis Schaeffer no Livro A Morte da Razão nos diz:

“Cada geração defronta com este problema de aprender como falar ao seu tempo de maneira comunicativa. É problema que não pode ser resolvido sem uma compreensão da situação existencial, em constante mudança, com que se defronta. Para que consigamos comunicar a fé cristã de modo eficiente, portanto, temos que conhecer e entender as formas de pensamento da nossa geração.” (1997, p.5)

Segundo Francis Schaeffer, devemos compreender as formas de pensamento de nossa geração, cujo contexto encontra-se sob a influência da Pós-Modernidade. Podemos sim, combater tudo aquilo que é contrário ao evangelho cristão, mas ao mesmo tempo devemos comunicar de forma eficiente aquilo que é segundo a Palavra de Deus.

Na pós-modernidade também observamos um grande pluralismo religioso. Mostrando que a salvação não possui um só caminho, mas diversos deles. Nenhuma religião, incluindo o Cristianismo, tem o direito de se achar a única dona da verdade. No pensamento pós-moderno não existe verdade absoluta, pois a verdade é relativizada, é o que diz Daniel Salinas no Livro Pós-Modernidade (1999, p.33-38)

Segundo o Teólogo Carlos Augusto Lopes, a geração pós-moderna é uma geração sem conteúdo, sem profundidade e que preza pelo hedonismo, niilismo e o narcisismo. Eles têm prazer no efêmero, não possuem sentimentos de culpa e valores permanentes.

A pós-modernidade por si só é um período de extrema dificuldade, mas também uma grande oportunidade para a fé cristã. O ser humano ainda está inseguro quanto ao seu futuro e órfão de valores da religião. A geração pós-moderna é extremamente liberal, amoral, apolítica, tecnológica e sem utopia. Vive uma vida privada e não pública, vivem na esfera do egocentrismo e da individualidade e não da comunidade. Esta geração adora o “supremo”, vive no mundo da superficialidade e não da profundidade, é consumista ao extremo e está sempre insatisfeita. Tem adotado um deus cósmico e místico, e não possui tempo para o sagrado, uma vez que seu tempo está sendo gasto com entretenimentos e pelos seus próprios prazeres.

Mas por outro lado, o evangelho cristão trás respostas para diversas indagações e também acabar com a inquietude dessa geração pós-moderna. É o que acrescenta o Teólogo Carlos Augusto Lopes, dizendo que “a geração pós-moderna é uma geração triste, complicada, cheia de solidão, de desesperança, de medo e que possui um vazio no coração.” Segundo ele, vivemos nesta aldeia global repleta de pessoas solitárias, depressivas e mistas entre fortaleza e fragilidade. E cabe a Igreja, comunicar Deus de forma sábia para que essa geração não seja engolida pela cultura genérica. Como disse John MacArthur: “Encontramos na pessoa de Jesus Cristo provisões suficientes para as nossas necessidades.” (1995, p.12)



Propostas para um mundo pós-moderno

Catalão Angel Castañeira, diz:

“Temos que revisar então o modelo de Jesus cujo ministério público foi essencialmente relacional. Ele andava no meio das multidões, ou então tinha encontros privados com determinadas pessoas, até mesmo de noite. Ele sabia o que era sentir o calor do meio-dia no deserto de Samaria, ou o frio da morte no quarto de um adolescente. Ele deixou-se tocar por uma mulher cerimonialmente impura, e tocou intencionalmente num leproso, isolado pela sociedade. Ele falou de situações cotidianas, de sal e lâmpada, de sementes e pastores de pais e filhos. Hoje, mais do que nunca, devemos seguir este modelo, se queremos alcançar a geração pós-moderna”
(Apud Salinas, 1999, p.46).

A citação acima nos mostra que Jesus soube comunicar o evangelho de Deus na sua época. Apesar das dificuldades, dos preconceitos e situações adversas, ele conseguiu romper as barreiras culturais de sua época. É o que diz o Teólogo Carlos Augusto Lopes:

“Cristo, no Sermão do Monte, nos mostra um caminho seguro para comunicar sua Palavra a essa geração pós-moderna [...]. A igreja de Cristo deve romper as barreiras e as fronteiras culturais e se apresentar para essa geração como “sal e luz”, e como guardadora da Verdade e praticadora da Verdade.

O missionário do Jovens da Verdade (SEPAL), Marcos Botelho, ainda acrescenta informações importantes para que possamos “combater” a pós-modernidade quanto á fé cristã. Ele relata que serve “Um Deus Jovem”, e que a sociedade erra quando julga nossa atual geração. Todas as gerações possuem seus pontos fracos – a pós-modernidade, muitos - e é costumeiro ouvirmos a fala de que a geração anterior vivia melhor do que esta, o que é errôneo. Segundo ele, não podemos desprezar o passado e nem impor o “certo” e o “errado”, mas reconhecer nossas diferenças e aprender com todas as gerações. O problema em questão, é que querem corrigir a nossa geração usando como padrão a geração passada. Ele ainda defende o argumento que devemos discutir cultura em cima de valores eternos e com missões transculturais e transgeracionais. Marcos Botelho ainda destaca que Deus não muda, não envelhece e é jovem. E que cada pessoa olha Deus e se identifica com a sua realidade, ou seja, o jovem pós-moderno pode ver Deus como jovem.

Também podemos considerar as palavras de Philip Kenneson, que diz:

“Nesta era, mais do que com palavras, evangelizemos com ações, com uma postura de amor pelos outros, com uma axiologia saturada pela ética e pelos valores do reino, e com uma mensagem encarnada, que saia dos templos e que se misture com a geração desencantada.”
(Apud Salinas, 1999, p.45).

Concluímos assim, que em tempos de pós-modernidade, muito mais do que em palavras, a fé cristã se fortalecerá a partir do momento que viver a diferença que nossa sociedade precisa. Enquanto a pós-modernidade foca no individualismo, pluralismo e hedonismo, o cristianismo tem de se mostrar coletivo, convicto de sua fé e mostrando amor pelo próximo.

Finalizamos este artigo com a citação do Teólogo Carlos Augusto Lopes, onde destaca os cinco pontos apresentados no Sermão do Monte que podem comunicar de forma objetiva o Evangelho á geração pós-moderna.
Primeiro: Ele diz que nós não podemos esconder nossa vida em argumentos racionais, mas encarar a nossa identidade. Mt. 5:13-16
Segundo: Nosso viver não pode ser só de palavras, mas de ação. Mt 7:24-27
Terceiro: Temos que ter amor pelos outros independentemente de serem nossos irmãos ou inimigos. Mt. 5:38-47
Quarto: Temos que ter uma epistemologia mediada por compaixão. Mt 5:7
Quinto e último: Temos que ter uma axiologia saturada pela ética e pelos valores do Reino. Mt 5:3-12; Mt 5:33


Saymon Medeiros,

Soli Deo Gloria.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Entre Balidos e Latidos


Estes dias fui entrar na casa de um amigo e ouvi o latido de um cachorro, mesmo ele falando que o cachorro dele não mordia, eu não quis entrar, fiquei receoso e não quis arriscar, pois pelo latido não parecia um cachorro pequeno.

Antes dos cachorros serem domesticados, quando eram selvagens e caçavam para comer, o seu latido era reconhecido e temido de longe, principalmente pelos pastores, pois os cães eram um dos predadores de suas ovelhas.

Poucos sabem, mas o barulho que as ovelhas fazem se chama balir, e é a única forma de “defesa” desse animal, se é que podemos chamar um grito de um animal de defesa.

Naquela época o pastor não tinha dúvida entre balidos e latidos, sabia claramente distinguir um e outro e sua reação, dependendo do barulho, era oposta. Uma era de defesa e outra era de acolhimento.

Mas o que era fácil naquela época é cada vez mais difícil hoje em dia.

Temos, como cristãos, que estar prontos para cuidar de pessoas. Esta não é uma “obrigação” apenas dos pastores e sim de todo aquele que um dia sentiu o cuidado de Deus.

Mas como é difícil sabermos o que é um balido ou um latido.

Em todas as áreas ouvimos críticas e reclamações e elas podem nos deixar mais fortes ou até nos destruir.

O grande problema é distinguir se a critica é um balido de uma ovelha precisando de ajuda, ser pastoreada, amparada ou, simplesmente ser ouvida, pois estes estão desesperados pedindo socorro e não sabem o que fazer, por isso reclamam.

Mas também tem os velhos fariseus, como diria Paulo: “cuidado com os cães” (Fp. 3:2). Estes criticam para destruir, para humilhar, por ciúmes ou para se exaltar. São latidos que repercutem por todos os lados e que se não estivermos atentos, poderão ser confundidos com os balidos.

Acredito que podemos crescer e aprender com qualquer tipo de crítica, mesmo sabendo que com os balidos é muito mais fácil.

Mas precisamos não errar em querer agradar os cães, pois eles não são o nosso foco e nem o nosso rebanho.

Vamos aprender com todas as críticas, mas não vamos gastar nosso tempo ou vida com os latidos, e sim com os balidos.

De: MarcosBotelho.com.br

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Duas orelhas e uma boca



“O que controla a sua boca preserva a vida, mas quem fala demais traz sobre si a ruína” (Pv 13.3).

Enquanto assistia à uma palestra, ele tuitava “isso aqui está tão chato”. O outro, desabafando, reclamava do chefe, dos colegas e de seu trabalho. A outra dizia que se espantava consigo mesma por estar tomando mais um porre em plena terça-feira. Uma ainda confessava as carências afetivas que a consumiam. Uma amiga minha resumiu bem esse cenário dizendo: “Metaforizando: Já perceberam que o Facebook é um divã e os psicanalistas somos nós?”
Nossa geração tem concentrado muita atenção nas redes sociais. Facebook, Twitter, Orkut e congêneres são os suportes utilizados para que as narrativas do eu se manifestem. “No que você está pensando agora?”, “O que está acontecendo?”, “Qual é a frase do seu perfil?”: essas perguntas têm nos provocado e temos respondido a elas. Sem dúvida, individualismo e subjetividade nunca estiveram tão evidentes.

Você pode opinar sobre tudo e todos. Você pode elaborar o discurso sobre si. Você está em evidência. Você tem espaço. Onde ficam os outros? E cadê aquela lógica, que a vovó ensinava, do “meu ouvido não é penico”? No exercício de ser e conviver, o eu precisa se dar conta do outro e do mundo, pois ele não subsiste sozinho e, se assim tenta ser, acaba por se anular.

Temos falado muito. Será que esquecemos do que, quando crianças, ouvíamos com frequência: temos duas orelhas e uma boca? Será que a internet tem reproduzido o comportamento típico humano do pouco ouvir e do muito falar? O que temos falado nas redes sociais?

O sábio Salomão – aviso, ele não tem Twitter, Facebook e nem Orkut que seja oficial – já advertia que controlar a boca preserva a vida. Será mesmo que as redes sociais são o melhor lugar para expressar o meu humor, as minhas dúvidas pessoais e percepções que tenho sobre os outros? Essa verborragia é válida pra quê?

Para que a pulga fique atrás da orelha, vale a pena pensar que Jesus Cristo disse que “a boca fala do que está cheio o coração” (Mt 12.34b). Que tal dar uma olhada para o meu coração hoje? Mas não preciso tuitar o que achei, né!?

De: ultimato.com.br

Entre os “SUPERS” e os “HERÓIS"


Os desenhos que mais gostava de assistir quando criança eram Comandos em Ação, Super-Amigos (Liga da Justiça) e Transformers (o desenho, primeiro e original, com o fusquinha amarelo bumblebee). Eram desenhos de heróis e vilões, mocinhos e bandidos, vitoriosos e fracassados. Como eu gostava e esperava por aqueles episódios cheios de emoção, de revira-voltas, de trabalho em equipe para vencer o inimigo! Como eu gostaria de ter “super-poderes” e super amigos para superar todos os obstáculos que surgiam na minha frente. Marcas da minha infância… será que somente da infância?!

Todos os dias, em determinadas situações, eu gostaria de ter super-poderes. Poder ler a mente das pessoas com quem estou conversando, ver o que acontece atrás das paredes onde pessoas estão falando sobre mIm, poder super-auditivo para chegar com respostas antes que perguntas sejam feitas, poder de raio laser para queimar as contas que estão para chegar, poder para fazer as pessoas entenderem o amor de Deus e se converterem. Gostaria de ser um super… mas gostaria de ser um herói?!

Super-heróis realmente têm seus super-poderes, capazes de salvar toda a humanidade da destruição intencionada pelos vilões de plantão. Mas existem outras coisas que não pensamos sobre os super-heróis: todo super-herói tem uma super-fraqueza que precisa ser escondida de todos, pois seus inimigos podem atacá-lo a qualquer momento e usar seu ponto fraco para vencê-lo. Os super-heróis têm uma identidade secreta que não pode ser revelada, pois colocaria em risco a vida de pessoas da sua família e círculo de amizades. Os super-heróis não têm férias nem tempo para si mesmo, precisam viver para o outro, precisam renunciar a si próprios porque a qualquer momento o mundo pode estar em perigo. Os super-heróis, neste ritmo, são pessoas amadas e adoradas, mas ao mesmo tempo vivem em profunda solidão e desespero. Esta história de super-heróis e super-poderes já está me incomodando!

Quando falamos da fé cristã, algumas coisas me chamam a atenção pela proximidade e também pela distância dos elementos comuns aos super-heróis. Enquanto que as super-fraquezas dos nossos heróis precisam ser escondidas, as nossas fraquezas precisam ser expostas, pois “a minha graça te basta, e o meu poder (de Deus) se aperfeiçoa na fraqueza (a minha)” (I Coríntios 2:9). É exatamente expondo nossas fraquezas que recebemos força e poder para enfrentar nossos inimigos, pois teremos cada vez mais consciência que somos “dependentes” da graça de Deus. Os candidatos a super-heróis precisam viver sob uma máscara, uma identidade secreta, e nós, ao contrário, somos chamados a expor a nossa verdadeira identidade, independente das conseqüências, pois Paulo nos ensina “Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou;” (Colossenses 3:9-10). Se os super-heróis vivem uma vida solitária, apesar de serem venerados e amados pelas pessoas de “boa índole”, nós somos convocados a viver em comunhão, como membros uns dos outros, formando um corpo cujo cabeça é Jesus Cristo (I Coríntios 12:12-27). Apesar de tantas distâncias, algo nos aproxima: os heróis não vivem para si, mas para o outro, e nós precisamos “ter a mesma atitude de Cristo, que, sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se, mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens…” (Filipenses 2:5-11 – NVI).

Nessas comparações não posso deixar de me referir àqueles que são colocados, na Bíblia, na “galeria dos heróis da fé”, como pessoas que pela fé conquistaram reinos, praticaram a justiça, alcançaram o cumprimento de promessas, fecharam a boca de leões, apagaram o poder do fogo e escaparam do fio da espada; da fraqueza tiraram força, tornaram-se poderosos na batalha e puseram em fuga exércitos estrangeiros. Houve mulheres que, pela ressurreição, tiveram de volta os seus mortos (Hebreus 11:33-35a). Pessoas extraordinárias que realizaram feitos que somente super-heróis poderiam realizar. Mas no mesmo texto, com a mesma qualificação de herói, Hebreus afirma que alguns foram torturados e recusaram ser libertados, para poderem alcançar uma ressurreição superior. Outros enfrentaram zombaria e açoites, outros ainda foram acorrentados e colocados na prisão, apedrejados, serrados ao meio, postos à prova, mortos ao fio da espada. Andaram errantes, vestidos de pele de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos e maltratados(Hebreus 11:33b-37). Peraí! Há algo de errado com este segundo grupo… super-heróis não são serrados ao meio nem mortos ao fio da espada! Podem até ser apedrejados, mas usam seus super-poderes para gerar com campo de força e se proteger, e, ir pra prisão é uma questão de estratégia para enganar o inimigo… mas derrotados?! Como pode um super-herói ser derrotado?!

Uma reviravolta nos conceitos de super-heróis… mesmo porque o final do texto refere-se a estes como pessoas que “o mundo não era digno deles” (v.38). Então super-herói nem sempre vence? Pode ser derrotado, pode fracassar, pode falhar na sua missão?! Super-heróis podem ser humilhados, expostos, envergonhados e mortos?

Neste vai-e-vem entre a ficção humana e a convicção bíblica percebo uma mudança total no que pode ser considerado como vida de herói. Não são mais os super-poderes, não são mais os grandes feitos, não são as máscaras e identidades secretas, não são as vitórias “admiráveis e espetaculares”. O verdadeiro “super-herói” é aquele que independente da circunstância (vitória ou derrota) é marcado por uma vida que testemunha a sua fé em Jesus Cristo. Morrer testemunhando, viver testemunhando, fechar a boca de leões testemunhando, ser serrado ao meio testemunhando. o poder é o Evangelho, a força é a Fé, a atitude é o Testemunho. Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta (Hebreus 12:1)

Vivendo ou morrendo, sempre vencendo, pois a nossa vitória é ser TESTEMUNHAS que mostrem o caminho para o alvo, Jesus Cristo, autor e consumador da nossa fé. Eu quero fazer parte desta nuvem!

Nem super, nem herói… Agora meu alvo é TESTEMUNHAR.

Rodolfo Franco Gois tem 29 anos, é casado com Daiane, pastor da Igreja Presbiteriana Independente Liberdade (Maringá/PR) e Diretor Pastoral do TeenStreet Brasil (www.teenstreetbrasil.com.br).

De: Ultimato.com.br/sites/jovem

Nosso dogma global


O homem busca coisas que ele considera “necessidades”, mas que no final podem o tornar escravos de uma rotina que o afasta de sua vocação e missão de vida.

A maioria da sociedade tem vendido a sua alma em troca daquilo que paga melhor. A mensagem, desde as instituições de ensino fundamental até as de nível superior, não é conhecimento, não é fornecer um universo ao estudante que possibilite um encontro, em primeiro lugar, com a sua cidadania e depois com ferramentas que vão ajudá-lo na construção de sua carreira para uma melhor interação com o mundo a sua volta. A mensagem dessas instituições é tão somente formar peças que vão compor as demandas do mercado profissional.
O que o ser humano aprende é que ele precisa se formar para “ser alguém na vida” pois, afinal de contas, o seu valor não é intrínseco. Ele aprende que precisa estudar, não por causa de sua construção como um indivíduo que nasce com um propósito, mas porque precisa atender essa demanda do mercado. O resultado disso é que toda a informação adquirida no seu tempo de estudo é esquecida depois de passar num concurso público, ou até mesmo depois de sair da universidade. Os conceitos aprendidos perdem sua aplicabilidade, pois só serviram de trampolim social.

Uma pessoa pode acordar todos os dias às seis da manhã, pegar sua condução, bater cartão, voltar as às cinco da tarde para a casa e, enfim, cumprir esse ritual até os últimos dias de sua vida sem ao menos questionar quem ela é ou qual legado deixará para futuras gerações? A necessidade de conforto cega e tira da pessoa a reflexão sobre a vida.

O problema não é o trabalho mas é a falta do entendimento de que o trabalho é consequência de um indivíduo que encontra a sua vocação, que sabe que nasceu para responder uma necessidade, dentro dessa dinâmica relacional em que vive com seu próximo.

Ao estar preso dentro de um modelo de vida que o leva sempre em busca de sua “realização pessoal”, o ser humano não consegue enxergar essa outra realidade possível. Uma realidade onde habita a justiça, a paz e a alegria no Espírito. Como já dizia o bom e velho mestre, buscar o Reino de Deus e a sua justiça deve ser a nossa prioridade. Só que quanto mais envolvidos estamos, como seres viventes, com as urgências do materialismo, menos ouvimos a dor de quem sofre com a injustiça, denunciamos aqueles que corrompem as leis e menos ainda somos felizes.

Sim, infelizes por optar pelo caminho mais fácil, por viver no lugar mais seguro, por seguir essa romaria global que nos afasta uns dos outros e, principalmente, da razão de nossa existência. Os felizes são os que tem “fome e sede de justiça, que agem com misericórdia, os que são puros de coração e os pacificadores”. Talvez estes sejam os que, de fato, são realizados.

Fica na minha mente a canção Capitão de Indústria da banda Os Paralamas do Sucesso: “eu não tenho o tempo de ter, o tempo livre de ser, de nada ter que fazer…, eu acordo prá trabalhar, eu durmo prá trabalhar, eu corro prá trabalhar”. O que nos resta depois disso?

Euro Mascarenhas tem 24 anos e trabalha com a JOCUM

De: Ultimato.com.br/sites/jovem