quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O perigo da alegria constante


Ligue a televisão em um desses canais com pregação ao vivo e espere cinco minutos. Talvez nem demore tanto para notar o discurso positivista que tem tomado conta da igreja cristã no Brasil. A venda da felicidade, da alegria constante, tem tirado o foco do sofrimento que Jesus tanto pregou em seus três anos de carreira aqui na Terra.

Lembro bem da passagem na qual Cristo percebe a multidão que o seguia apenas pelo interesse do milagre fácil, da cura instantânea, desatenta a real mudança de comportamento que o Mestre pregava, e inicia um discurso duro. Um a um, Jesus vai ganhando unfollows perdendo seguidores, até restarem apenas os 12 discípulos.

Como a música cristã no Brasil é muito vinculada à doutrina das igrejas, não demorou muito para que versos como "quem te viu passar na prova e não te ajudou / quando ver você na bênção vai se arrepender" surgissem. A mensagem quase-vingativa tomou o lugar das reflexões descompromissadas, que expressavam apenas a dor da alma que sofria em terra estranha.

Em tempos de relacionamentos superficiais dentro da própria igreja, o discurso da "alegria sempre" nunca se fez tão necessário. Pregar o sofrimento, a renúncia, se tornaram sinônimo de não-aceitação de mercado. A indústria cristã se tornou um negócio como qualquer outro. Se o artista não vende, fica sem gravadora. Simples assim.

Se artistas como Sérgio Lopes e Álvaro Tito, que cantaram a melancolia com afinco, lançassem seus primeiros discos nos dias de hoje, será que os conheceríamos? Consegue dimensionar o tamanho da perda a qual estamos sujeitos escolhendo apenas o que é feliz? Será que Antônio Almeida conseguiria emplacar Rude Cruz nas rádios gospel de sua cidade?

"Sim, eu amo a mensagem da cruz
Té morrer eu a vou proclamar
Levarei eu também minha cruz
Té por uma coroa trocar"

Nem só de alegrias é feita a vida. Assim também é a vida cristã.

De: http://blog.rafaelporto.com/

domingo, 23 de janeiro de 2011

Keith Green


O nome de Keith Green não é um dos mais conhecidos no Brasil. Boa parte dos crentes dá crédito ao Michael W. Smith, sem saber que o estilo piano-adoração foi inaugurado por outro jovem, quase trinta anos antes da série worship lançada pelo bonitão da música gospel. A história do artista surpreende não apenas pela qualidade musical, mas também pela própria vida.

Cresci cantarolando os versos Senhor bondoso és / tua face eu quero ver, de uma faixa que coloquei no repeat de meu mini system diversas vezes enquanto ouvia o disco de Marcos Góes (alguém ainda lembra dos longínquos e bons tempos da MK Publicitá?). Só muitos anos depois, quando tive acesso à internet, conheci o autor da canção original: Keith Green.


Morto há 28 anos, quando ainda tinha apenas 28 anos, e por incrível que pareça, em um dia 28, Keith deixou uma marca na música cristã contemporânea. Testemunha da grande mudança ocorrida no mundo durante as décadas de 60 e 70, Green foi além do gospel tradicional e compôs músicas profundamente atuais para a época - algumas me lembram muito o estilo do Elton John.


Fora dos palcos, provou a diferença que existe entre um autêntico cristão e um artista interessado em promoção pessoal: evangelizou prostitutas, drogados e cedeu os próprios bens em favor dos outros. Praticamente um Barnabé moderno, que pregava por meio da música e vivia o que compunha. Um exemplo.


Não bastasse a vida comovente, nos deu de presente Your Love Broke Throug, uma das músicas mais lindas que já ouvi na vida.

De: http://blog.rafaelporto.com/

Arte sem rótulo cristão


Luzes no palco, rock em alto volume e uma multidão de braços erguidos, em balanço sincronizado e sorriso aberto. No microfone ao centro, um jovem barbudo de cabelos cacheados empunha uma guitarra, cambaleia pelas melodias como um equilibrista bêbado, enquanto outros três amigos guiam com segurança o ritmo que faz bater o pé dos ouvintes mais contidos.

As camisetas estampam mensagens de atitude, denunciam a fé e o vigor juvenil dos integrantes do Palavrantiga. "Feito de barro", exibe discretamente no peito o vocalista Marcos Almeida, enquanto espalha sua feliz mensagem de esperança em melodias melancólicas. É noite de sexta-feira e, ao meu lado, centenas de homens e mulheres acompanham cada verso a plenos pulmões.

A cena toda ocorre dentro da igreja Missão Praia da Costa, em Vila Velha (ES). Ao fim do espetáculo - que em nenhum momento deixa de parecer um culto - me identifico, conheço de perto os integrantes da banda, sou lembrado pela sincera crítica feita ao disco - da qual pude me explicar mais tarde -, e combinamos um almoço para o dia seguinte. Cantarolando as músicas novas que embalaram a noite, volto para casa e espero o horário marcado.



Arte cristã?

Mineiros e capixabas estão reunidos em uma longa mesa e, entre um pedaço e outro de picanha, começo a entender um pouco mais da cosmovisão - termo frequente no vocabulário de Marcos - que rege as letras da banda. Depois de algumas horas compartilhando experiências, sou informado que o Palavra - nome carinhoso com o qual se referem ao grupo - foi convidado para abrir um dos shows do E.M.I.C.I.D.A em São Paulo.

O rapper brasileiro, emergente na cena do hip hop, recentemente foi pauta de grandes revistas nacionais (veja ótima entrevista concedida a Pedro Alexandre Sanchez para a Bravo! aqui). "Dizem que os caras da Rolling Stone vão estar lá. Já pensou, cara?", sonha o vocalista. Na rápida conversa que sucede a novidade, fica evidente o feito alcançado pela banda: mais uma vez, romperam o circuito cristão e alcançaram notoriedade além do rótulo que os persegue.

Por sinal, rótulo este rejeitado com veemência. "Quem acompanha o Palavrantiga não está desenganado a respeito da gente. Primeiro que a gente não é uma banda com fins religiosos. Todo mundo sabe disso. Alguns chamam a gente de gospel, outros de cristãos, mas a gente nunca denominou o Palavrantiga com estes termos. Isto é coisa que outros estão dizendo a respeito da gente. A gente enxerga o mundo de forma muito mais simples, embora outros possam enxergar de forma complicada", justifica Marcos.

"Tem muita gente ganhando mídia, palanque e espaço na internet, nas novas mídias, batendo no meio evangélico mas sem propor ou criar um novo pensamento. Não se propõe nada, o máximo que tentam é chamarem a si mesmos de criativos, inteligentes. Aí eu pergunto: 'mas o que você propôs, brother? Você ainda faz divisão do mundo em sacro e profano, só é um pouquinho mais sofisticado, usando um vocabulário diferente'" (Marcos)

Este "enxergar de forma complicada", citado pelo vocalista, se estende à igreja, aos meios de comunicação e, por que não?, aos artistas cristãos. "O que valida, fundamenta, justifica o fato de fazer música? Se for outra coisa a não ser arte, você a está subjugando a outra esfera, que talvez pode diminuí-la. O que algumas pessoas fazem é se esconder dentro de um argumento eclesiológico, um argumento da esfera epísitica pística, [para entender mais sobre o conceito, leia aqui, por indicação de Marcos] religiosa, pra validar seu trabalho de artista, sendo que são esferas interdependentes", explica.

Unção x Qualidade

Almoço terminado, seguimos para mais uma rodada de perguntas, desta vez, na casa do baterista Lucas Fonseca. Acomodados na sala, conversamos mais um pouco sobre os rumos da música cristã. Ponho em xeque a postura de alguns artistas, que insistem em comercializar músicas rasas sob o pretexto de serem "cheios de unção" - parâmetro imprescindível, tendo em vista que todo cristão possui o Espírito Santo como guia. Marcos responde.

"Não é porque você tem fé que a sua canção é válida. Pode fazer uma canção que é uma porcaria, horrível. Existe o belo e o feio. E tem gente que pode fazer uma canção feia e ter unção. Entendeu? Mas aí é o seguinte: o que você vai estar avaliando quando o brother está compartilhando a música dele? No contexto religioso, da igreja, o importante ainda é a mensagem, a unção, porque a igreja ainda não criou um espaço para apreciar", resume.

* Você sabia?
* Os integrantes se conheceram enquanto faziam turnê como banda de apoio de Heloísa Rosa, conhecida por ministrar com David Quinlan
* Marcos, que era tecladista de Heloísa, se juntou a Lucas, Felipe e Josias apenas em 2008 como Palavrantiga
* Neste curte período, o Palavrantiga foi convidado pelo tecladista do Skank, Henrique Portugal, para tocar em eventos de bandas alternativas
* O grupo é um dos destaques do Oi Novo Som!, projeto da Oi FM para divulgar novas bandas brasileiras

Fora da igreja, porém, se faz necessário abrir espaço para a apreciação, concordam os integrantes da banda. Lucas defende o fim da "poda artística" dentro das igrejas, ambientes onde a expressão deve sempre estar vinculada à devoção. O baterista hierarquiza três pontos que considera fundamentais para a boa arte, citando um crítico holandês [não consegui encontrar mais referências na internet], Rookmaker. "Primeiro, a qualidade dela [da arte], a técnica; segundo, se ela tinha uma verdade, se não era uma coisa reducionista, distorcida; e terceiro, a integralidade da arte. São três pontos que o cara sempre falava: 'nem toda a arte cristã tem isso, e muita coisa do meio tradicional artístico se encaixa nestes pontos'", lembra. [A banda sugeriu o áudio de uma palestra de Rodolfo Amorim, na qual disserta sobre o crítico holandês. Ouça aqui]

Igreja

Para Marcos Almeida, a discussão envolvendo rótulos, qualidade e unção tem sido feita no ambiente errado. A igreja, segundo classifica, continua sendo o lugar para apenas "acolher pessoas e ensinar o evangelho". Torná-la um ambiente para debates, diluindo sua função principal, "é dar à esfera pística, uma coisa que não é da alçada dela", lamenta.

Em meio à profundidade dos temas discutidos, é inevitável não perceber quão bem embasados estão todos os membros do Palavrantiga. Parte disso, deve-se à biblioteca transportada durante as viagens da mini-turnê. Ao invés de discos e música em alto volume - como vemos nos filmes -, livros e silêncio estão por toda a parte. Obras de CS Lewis, John Stott, e outros que não consegui discernir (por culpa do inglês com sotaque mineiro do vocalista) deixam para trás o esteriótipo de que bandas de rock e literatura não combinam.


Dentre as influências brasileiras, estão os autores Guilherme de Carvalho e Rodolfo Amorim, referidos como amigos. Crítico confesso do modo de confissão artística praticado no país, Marcos vai de encontro à postura dos cristãos. "[O crente] Precisa ler coisas diferentes. Poderiam existir associações artísticas que não necessariamente precisariam de um aval ou investimento do pastor. O que impede artistas cristãos de se reunirem, ter a ideia de construir um café, uma livraria?", sugere o vocalista.

"Mas se você tirar o consumo de dentro da liturgia do culto, eliminar este conceito de que, ao comprar um disco, abençoa o ministério de fulano, a estratégia funcionaria?", questiono. "Não", rebate instantaneamente Marcos. "Teria que mudar a visão de mundo e isso é um processo cultural. Talvez, o que estamos debatendo aqui só nossos filhos vão ter a tranquilidade de realizar", lamenta o artista, pela primeira vez, refém das mentes que não pôde mudar com seus questionamentos em forma de música.

De: http://blog.rafaelporto.com/

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Obrigado ciganos


Quando eu os via espalhados próximo ao rio, agrupados em barracas feitas de lona, com suas roupas coloridas e seus dentes dourados, a curiosidade escalava minha mente e gritava do alto dela: – O que são eles?
Eram tão diferentes de mim e de todos aqueles que eu conhecia.
Lembro-me de estranhar até mesmo o cheiro que impregnava o acampamento onde viviam. Pensava que eram de outro mundo.
Mas em um destes dias em que um filho tem a alegria de passear ao lado de quem tanto ama, os avistei novamente e não segurei a pergunta que tanto pedia para voar até os ouvidos de minha mãe.
Parei meus pés pequenos, olhei naqueles olhos de amor e disse: – Mãe, o que são eles?
A resposta foi breve, porém satisfatória. Naquela tarde passei a chamá-los de CIGANOS.
Como se algo no universo soubesse que eu havia recebido aquela informação, comecei a esbarrar com pessoas bem informadas sobre os tais ciganos, inclusive um bom amigo da então terceira série que juntos cursávamos.
Conversamos como adultos e exploramos o assunto à exaustão.
- Eles podem ler o futuro olhando nossas mãos? Indaguei intrigado e assustado.
- Sim, minha mãe disse que eles conseguem enxergar o futuro olhando nossas mãos! Confirmou meu amigo, com olhos arregalados e voz sussurrada. Foi um papo incrível.
No entanto, não acreditei nisso por muito tempo. Ainda no mesmo ano parei de me esconder toda vez que alguma Cigana cruzava o meu caminho.
Hoje. Depois de tantas estações, penso que posso aprender algo com este povo nômade e quase estrangeiro.
Continuo não acreditando que os olhos mágicos de uma mulher das barracas de lona possam ler meu futuro enquanto decifram as linhas de minha mão. Porém, admiro o quanto eles relacionam as mãos com nossa história, com a nossa vida.
Por alguma razão, que não pesquisei, eles crêem que as mãos contam histórias do amanhã. Eu – porém – acredito que as mãos contam histórias de ontem e narram os sentimentos do hoje.
Lembro-me dos poucos calos que sentia enquanto minha avó acariciava meu rosto. Suas mãos me confidenciavam o quanto trabalharam e lutaram na vida. Eram mãos tagarelas. Conheciam mil grandes episódios sobre aquela que me embalava em seu colo e não guardavam segredos. Era tão bom ouvir as mãos da minha querida avó!
Quando ela morreu fui consoladamente abraçado. Enquanto eu chorava, ouvia palavras carinhosas de gente que não imaginava o que eu sentia, mas que estava disposta a sentir tudo aquilo comigo. Não podiam me curar, mas desejavam levar sobre eles um pouco da minha dor.
Recordo-me quando alguém segurou minhas mãos.
Senti meu coração desistir de correr para minha boca e se derramar em palavras confusas e incompletas, como até aquele momento incansavelmente fazia. Ele passou a pulsar nas mãos. Era ali que ele chorava, pedia, gritava e sofria. Minhas mãos foram escolhidas para desabafar a agonia que percorria todo o meu ser e através delas eu pude experimentar o alívio de partilhar com alguém cada sentimento ferido.
Naquele instante eu sabia que através das minhas mãos alguém estava lendo meu coração e descobrindo um pouco de como eu realmente me sentia naquele “hoje” cinzento.
Não somos Ciganos. Não cremos que as mãos podem antecipar os caminhos que ainda virão. Mas somos Humanos. Podemos crer que as mãos estão prontas para cantar as melodias tristes e os acordes felizes de um ontem que não volta. Assim como estão dispostas a confessar nossos pesares e conquistas no hoje.
Enquanto escrevia aqui, lembrei-me que a bíblia já falou sobre isto, e muito bem.
Quando o Senhor desejou fazer a nação de Israel entender o quanto era amada e cuidada por Ele, deixou uma mensagem escrita em Suas mãos. Nelas ele gravou o nosso valor.
Quem não lê as mãos de Deus não tem a alegria de descobrir que nelas estão escritos os nossos nomes.

Eis que nas palmas das minhas mãos eu te gravei; os teus muros estão continuamente diante de mim. Isaías 49:16

Não despreze as mãos que se aproximam. Segure-as e esteja preparado para ler histórias e conhecer corações.

Thiago Grulha

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Uma noite de Paz?!

Ao querido e meu amado irmão, Wesley Medeiros.

"A paz, o amor e a felicidade

Para onde vão a paz, o amor e a felicidade após as festividades de fim de ano? Onde é que eles se escondem durante o resto do ano!

No final de ano, todos choram, todos se amam, as famílias se reconciliam, os colegas de serviço esquecem as mágoas e chateações do ano velho e o mundo fica muito mais lindo e perfeito. Pelo menos até os primeiros dias do próximo ano, depois volta tudo ao "normal", o coração volta a endurecer, o amor é esquecido, nas famílias já há um novo motivo para brigas, no trabalho as velhas mágoas voltam à tona porque já é ano novo e já se foi o Natal.
Onde estão a paz, o amor e a felicidade durante o resto do ano?

Por isso neste final de ano não vou desejar a você paz, amor e felicidade, porque se eu fizer isso apenas de minha parte será passageiro.
Este ano vou te mostrar o caminho para a paz, o amor e a felicidade, este ano quero que você saiba que o Natal é alegria, porque comemoramos(ainda que de forma simbólica) o nacimento daquele que deu sua vida para nos redimir de nossos pecados, comemoramos Cristo, que veio ao mundo para nos trazer a verdadeira paz, celebramos Cristo, que nos ensinou o amor, porque ele é o amor, nos alegramos no nascimento de Jesus, que nos reconciliou com o Pai, porque ele é o nosso único caminho, unica verdade e vida.

Até 2011!"

Afinal...
Chega o fim do ano e é tudo igual.
Que Deus abençoe sua vida,

Sy Medeiros

sábado, 4 de dezembro de 2010

Medite



Alguma diferença?! Quem sabe...

Pop, o gospel vira mestrado


Larissa Linder - Estadão.edu

Uma gravadora de música gospel brasileira conseguiu faturar R$ 18 milhões em 2008. No mesmo ano, uma cantora evangélica emplacou seu hit na trilha sonora em novela do horário nobre da TV Globo. Foram fatos como esses que fizeram Joêzer Mendonça buscar os motivos do sucesso da música religiosa. “Quis entender o que a levou a ser esse fenômeno de público e de vendas”, conta o professor e pianista de música sacra, Joêzer Mendonça.

Para investigar a popularidade da música evangélica durante o preparo de sua dissertação de mestrado – O Gospel é Pop: Música e Religião na Cultura Pós-Moderna, apresentada no núcleo de Musicologia do Instituto de Artes da Unesp no ano passado –, o professor passou a ouvir muitas canções.

“Tem de tudo, desde rock até funk evangélico; os artistas se apropriam desses ritmos populares para alcançar um público maior.” Mendonça afirma que essa apropriação dos ritmos populares é um dos fatores que mais contribuem para a vendagem dos discos.

“A música serve para dar sentido para as pessoas que não conhecem a religião. Cada gênero serve a um nicho de mercado ou de pessoas a serem evangelizadas.” De acordo com o professor, a canção gospel moderna é elemento primordial das novas práticas litúrgicas – e tem demonstrado atender não somente às demandas espirituais e emocionais, como também às exigências do mercado.

O mercado, aliás, caminha junto com o sagrado, explica o autor da dissertação. “Vivemos numa era de intenso incentivo ao consumo e inclusive há o processo de sacralização do consumo: consumir é como levar o sagrado para casa”, diz. “Então, comprar um CD evangélico é como ser cristão.”

Outro motivo para que a música gospel seja um sucesso de vendas, segundo o autor, foi uma mudança de percepção. Antes, quem definia como ser cristão era o pastor, o padre, enfim. Hoje, o fiel é mais autônomo. “Pode interpretar a Bíblia de várias formas, assim como pode escolher o que considera ser cristão. Se ele acha que comprar um CD de pagode gospel é ser temente a Deus, ele se sente livre para fazê-lo”, avalia.

O autor faz uma ressalva. “Questiono se esse processo de transformar música religiosa em música pop não dilui a mensagem do Evangelho.”