quarta-feira, 11 de maio de 2011

Duas orelhas e uma boca



“O que controla a sua boca preserva a vida, mas quem fala demais traz sobre si a ruína” (Pv 13.3).

Enquanto assistia à uma palestra, ele tuitava “isso aqui está tão chato”. O outro, desabafando, reclamava do chefe, dos colegas e de seu trabalho. A outra dizia que se espantava consigo mesma por estar tomando mais um porre em plena terça-feira. Uma ainda confessava as carências afetivas que a consumiam. Uma amiga minha resumiu bem esse cenário dizendo: “Metaforizando: Já perceberam que o Facebook é um divã e os psicanalistas somos nós?”
Nossa geração tem concentrado muita atenção nas redes sociais. Facebook, Twitter, Orkut e congêneres são os suportes utilizados para que as narrativas do eu se manifestem. “No que você está pensando agora?”, “O que está acontecendo?”, “Qual é a frase do seu perfil?”: essas perguntas têm nos provocado e temos respondido a elas. Sem dúvida, individualismo e subjetividade nunca estiveram tão evidentes.

Você pode opinar sobre tudo e todos. Você pode elaborar o discurso sobre si. Você está em evidência. Você tem espaço. Onde ficam os outros? E cadê aquela lógica, que a vovó ensinava, do “meu ouvido não é penico”? No exercício de ser e conviver, o eu precisa se dar conta do outro e do mundo, pois ele não subsiste sozinho e, se assim tenta ser, acaba por se anular.

Temos falado muito. Será que esquecemos do que, quando crianças, ouvíamos com frequência: temos duas orelhas e uma boca? Será que a internet tem reproduzido o comportamento típico humano do pouco ouvir e do muito falar? O que temos falado nas redes sociais?

O sábio Salomão – aviso, ele não tem Twitter, Facebook e nem Orkut que seja oficial – já advertia que controlar a boca preserva a vida. Será mesmo que as redes sociais são o melhor lugar para expressar o meu humor, as minhas dúvidas pessoais e percepções que tenho sobre os outros? Essa verborragia é válida pra quê?

Para que a pulga fique atrás da orelha, vale a pena pensar que Jesus Cristo disse que “a boca fala do que está cheio o coração” (Mt 12.34b). Que tal dar uma olhada para o meu coração hoje? Mas não preciso tuitar o que achei, né!?

De: ultimato.com.br

Entre os “SUPERS” e os “HERÓIS"


Os desenhos que mais gostava de assistir quando criança eram Comandos em Ação, Super-Amigos (Liga da Justiça) e Transformers (o desenho, primeiro e original, com o fusquinha amarelo bumblebee). Eram desenhos de heróis e vilões, mocinhos e bandidos, vitoriosos e fracassados. Como eu gostava e esperava por aqueles episódios cheios de emoção, de revira-voltas, de trabalho em equipe para vencer o inimigo! Como eu gostaria de ter “super-poderes” e super amigos para superar todos os obstáculos que surgiam na minha frente. Marcas da minha infância… será que somente da infância?!

Todos os dias, em determinadas situações, eu gostaria de ter super-poderes. Poder ler a mente das pessoas com quem estou conversando, ver o que acontece atrás das paredes onde pessoas estão falando sobre mIm, poder super-auditivo para chegar com respostas antes que perguntas sejam feitas, poder de raio laser para queimar as contas que estão para chegar, poder para fazer as pessoas entenderem o amor de Deus e se converterem. Gostaria de ser um super… mas gostaria de ser um herói?!

Super-heróis realmente têm seus super-poderes, capazes de salvar toda a humanidade da destruição intencionada pelos vilões de plantão. Mas existem outras coisas que não pensamos sobre os super-heróis: todo super-herói tem uma super-fraqueza que precisa ser escondida de todos, pois seus inimigos podem atacá-lo a qualquer momento e usar seu ponto fraco para vencê-lo. Os super-heróis têm uma identidade secreta que não pode ser revelada, pois colocaria em risco a vida de pessoas da sua família e círculo de amizades. Os super-heróis não têm férias nem tempo para si mesmo, precisam viver para o outro, precisam renunciar a si próprios porque a qualquer momento o mundo pode estar em perigo. Os super-heróis, neste ritmo, são pessoas amadas e adoradas, mas ao mesmo tempo vivem em profunda solidão e desespero. Esta história de super-heróis e super-poderes já está me incomodando!

Quando falamos da fé cristã, algumas coisas me chamam a atenção pela proximidade e também pela distância dos elementos comuns aos super-heróis. Enquanto que as super-fraquezas dos nossos heróis precisam ser escondidas, as nossas fraquezas precisam ser expostas, pois “a minha graça te basta, e o meu poder (de Deus) se aperfeiçoa na fraqueza (a minha)” (I Coríntios 2:9). É exatamente expondo nossas fraquezas que recebemos força e poder para enfrentar nossos inimigos, pois teremos cada vez mais consciência que somos “dependentes” da graça de Deus. Os candidatos a super-heróis precisam viver sob uma máscara, uma identidade secreta, e nós, ao contrário, somos chamados a expor a nossa verdadeira identidade, independente das conseqüências, pois Paulo nos ensina “Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou;” (Colossenses 3:9-10). Se os super-heróis vivem uma vida solitária, apesar de serem venerados e amados pelas pessoas de “boa índole”, nós somos convocados a viver em comunhão, como membros uns dos outros, formando um corpo cujo cabeça é Jesus Cristo (I Coríntios 12:12-27). Apesar de tantas distâncias, algo nos aproxima: os heróis não vivem para si, mas para o outro, e nós precisamos “ter a mesma atitude de Cristo, que, sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se, mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens…” (Filipenses 2:5-11 – NVI).

Nessas comparações não posso deixar de me referir àqueles que são colocados, na Bíblia, na “galeria dos heróis da fé”, como pessoas que pela fé conquistaram reinos, praticaram a justiça, alcançaram o cumprimento de promessas, fecharam a boca de leões, apagaram o poder do fogo e escaparam do fio da espada; da fraqueza tiraram força, tornaram-se poderosos na batalha e puseram em fuga exércitos estrangeiros. Houve mulheres que, pela ressurreição, tiveram de volta os seus mortos (Hebreus 11:33-35a). Pessoas extraordinárias que realizaram feitos que somente super-heróis poderiam realizar. Mas no mesmo texto, com a mesma qualificação de herói, Hebreus afirma que alguns foram torturados e recusaram ser libertados, para poderem alcançar uma ressurreição superior. Outros enfrentaram zombaria e açoites, outros ainda foram acorrentados e colocados na prisão, apedrejados, serrados ao meio, postos à prova, mortos ao fio da espada. Andaram errantes, vestidos de pele de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos e maltratados(Hebreus 11:33b-37). Peraí! Há algo de errado com este segundo grupo… super-heróis não são serrados ao meio nem mortos ao fio da espada! Podem até ser apedrejados, mas usam seus super-poderes para gerar com campo de força e se proteger, e, ir pra prisão é uma questão de estratégia para enganar o inimigo… mas derrotados?! Como pode um super-herói ser derrotado?!

Uma reviravolta nos conceitos de super-heróis… mesmo porque o final do texto refere-se a estes como pessoas que “o mundo não era digno deles” (v.38). Então super-herói nem sempre vence? Pode ser derrotado, pode fracassar, pode falhar na sua missão?! Super-heróis podem ser humilhados, expostos, envergonhados e mortos?

Neste vai-e-vem entre a ficção humana e a convicção bíblica percebo uma mudança total no que pode ser considerado como vida de herói. Não são mais os super-poderes, não são mais os grandes feitos, não são as máscaras e identidades secretas, não são as vitórias “admiráveis e espetaculares”. O verdadeiro “super-herói” é aquele que independente da circunstância (vitória ou derrota) é marcado por uma vida que testemunha a sua fé em Jesus Cristo. Morrer testemunhando, viver testemunhando, fechar a boca de leões testemunhando, ser serrado ao meio testemunhando. o poder é o Evangelho, a força é a Fé, a atitude é o Testemunho. Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta (Hebreus 12:1)

Vivendo ou morrendo, sempre vencendo, pois a nossa vitória é ser TESTEMUNHAS que mostrem o caminho para o alvo, Jesus Cristo, autor e consumador da nossa fé. Eu quero fazer parte desta nuvem!

Nem super, nem herói… Agora meu alvo é TESTEMUNHAR.

Rodolfo Franco Gois tem 29 anos, é casado com Daiane, pastor da Igreja Presbiteriana Independente Liberdade (Maringá/PR) e Diretor Pastoral do TeenStreet Brasil (www.teenstreetbrasil.com.br).

De: Ultimato.com.br/sites/jovem

Nosso dogma global


O homem busca coisas que ele considera “necessidades”, mas que no final podem o tornar escravos de uma rotina que o afasta de sua vocação e missão de vida.

A maioria da sociedade tem vendido a sua alma em troca daquilo que paga melhor. A mensagem, desde as instituições de ensino fundamental até as de nível superior, não é conhecimento, não é fornecer um universo ao estudante que possibilite um encontro, em primeiro lugar, com a sua cidadania e depois com ferramentas que vão ajudá-lo na construção de sua carreira para uma melhor interação com o mundo a sua volta. A mensagem dessas instituições é tão somente formar peças que vão compor as demandas do mercado profissional.
O que o ser humano aprende é que ele precisa se formar para “ser alguém na vida” pois, afinal de contas, o seu valor não é intrínseco. Ele aprende que precisa estudar, não por causa de sua construção como um indivíduo que nasce com um propósito, mas porque precisa atender essa demanda do mercado. O resultado disso é que toda a informação adquirida no seu tempo de estudo é esquecida depois de passar num concurso público, ou até mesmo depois de sair da universidade. Os conceitos aprendidos perdem sua aplicabilidade, pois só serviram de trampolim social.

Uma pessoa pode acordar todos os dias às seis da manhã, pegar sua condução, bater cartão, voltar as às cinco da tarde para a casa e, enfim, cumprir esse ritual até os últimos dias de sua vida sem ao menos questionar quem ela é ou qual legado deixará para futuras gerações? A necessidade de conforto cega e tira da pessoa a reflexão sobre a vida.

O problema não é o trabalho mas é a falta do entendimento de que o trabalho é consequência de um indivíduo que encontra a sua vocação, que sabe que nasceu para responder uma necessidade, dentro dessa dinâmica relacional em que vive com seu próximo.

Ao estar preso dentro de um modelo de vida que o leva sempre em busca de sua “realização pessoal”, o ser humano não consegue enxergar essa outra realidade possível. Uma realidade onde habita a justiça, a paz e a alegria no Espírito. Como já dizia o bom e velho mestre, buscar o Reino de Deus e a sua justiça deve ser a nossa prioridade. Só que quanto mais envolvidos estamos, como seres viventes, com as urgências do materialismo, menos ouvimos a dor de quem sofre com a injustiça, denunciamos aqueles que corrompem as leis e menos ainda somos felizes.

Sim, infelizes por optar pelo caminho mais fácil, por viver no lugar mais seguro, por seguir essa romaria global que nos afasta uns dos outros e, principalmente, da razão de nossa existência. Os felizes são os que tem “fome e sede de justiça, que agem com misericórdia, os que são puros de coração e os pacificadores”. Talvez estes sejam os que, de fato, são realizados.

Fica na minha mente a canção Capitão de Indústria da banda Os Paralamas do Sucesso: “eu não tenho o tempo de ter, o tempo livre de ser, de nada ter que fazer…, eu acordo prá trabalhar, eu durmo prá trabalhar, eu corro prá trabalhar”. O que nos resta depois disso?

Euro Mascarenhas tem 24 anos e trabalha com a JOCUM

De: Ultimato.com.br/sites/jovem